sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Anatomia de um incêndio - Primeira Parte

Muitas pessoas que começam a escrever um blog, repentinamente param de escrever, alguns nunca mais escrevem, desistem, por um motivo ou por outro; outros voltam a escrever meses depois, sempre se desculpando, alegando motivos particulares ou coisa parecida.
Eu também fiquei muitos meses sem escrever; mal tinha oportunidade para ver os comentários e publicá-los, e eu também tive um problema particular que me impediu de escrever:
Minha casa pegou fogo!
Sim, é isso aí, minha casa incendiou.
Acho que esse foi um bom motivo para parar de escrever durante quase 6 meses.
Nas próximas postagens (se eu conseguir) tentarei relatar a anatomia de um incêndio, o incêndio da minha casa, o lar, meu e da minha esposa.
Antes farei uma pequena explanação de em que pé estava a nossa vida antes do acontecido:
Tínhamos a alguns anos uma vida financeira confortável e nos últimos anos decaímos muito, basta dizer isso: A vida financeiramente falando estava muito difícil.
Conseguimos algum dinheiro e compramos um pequenino restaurante; desses que vendem mais quentinhas que refeições a mesa. Foi no final de Abril.
Foi um fracasso retumbante!
O restaurante vendia tão pouco que mal dava para pagar a conta de luz!
As coisas estavam tão mal que eu propus a minha esposa que ela lutasse no restaurante com nossa filha mais velha e eu procurasse outros caminhos.
Havia um botequim horroroso (pé sujo, cospe grosso) que sempre estava fechado a tarde e a noite a cerca de 2 km de distância do nosso restaurante, mas o "ponto" era melhor, próximo a vários comércios em uma rua de grande movimento de pedestres e carros.
Eu consegui falar com a proprietária (do fundo de comércio, não do prédio) e propus a ela arrendar o horário de 15h até o último cliente, visto que ela vendia refeições das 9 ás 15h.
Ela aceitou e assim começou a façanha de trabalhar na parte da manhã no restaurante da família e depois ir para o "cospe grosso".
Passado alguns dias minha esposa me pediu para que eu só ficasse no "cospe grosso", pois eu estava ficando muito cansado.
O "pé sujo" era isso mesmo, sujo, escuro, fedido era frequentado por pessoas "feias", chatas, clientes da pior qualidade, chatos, "cri-cris".
Porém como eu disse anteriormente o "ponto" era bom e eu resolvi apostar. Sempre eu poderia vender alguma coisa e levar algum dinheiro para casa.
Mais um fracasso.
Era um verdadeiro inferno.
Vendia muito pouco.
Eu e minha esposa enguiçávamos o carro de gasolina várias vezes por semana.
Muitas e muitas vezes não tínhamos dinheiro para repor a mercadoria; várias vezes eu precisava esperar vender uma cerveja para correr a padaria ao lado para comer um pão com manteiga ou com mortadela. Que fome!
Aos domingos a proprietária não abria para almoço, então eu e minha esposa tivemos a idéia de servir feijoada todos os domingos, visto que o outro restaurante não abria.
E assim foi, chegou a Copa do Mundo, a maioria dos jogos do Brasil era pela manhã, então eu chegava bem cedo para tentar vender umas cervejas durante os jogos (com a permissão da proprietária). Não vendia nada, ou quase nada.
Acabou a Copa do Mundo, graças a Deus e veio o primeiro fim-de-semana pós Copa e é claro a nossa feijoada.
11 de Julho de 2010, a proprietária do bar havia brigado com o marido e resolveu dar as caras para beber uma cervejas e afogar as mágoas, mais uma ou outra pessoa bebendo ou comendo a bendita feijoada, minha mulher, nos fundos, na cozinha as voltas com paios, chispes e ratos. Eu na frente do bar, na calçada conversava algo com a proprietária; de repente, do nada, sem mais nem menos surgiu uma mulher que eu nunca tinha visto; do nada ela apareceu e tocou no meu ombro e disse:
- O sr. mora no condomínio tal?
- Eu disse sim (com um sorriso).
- O sr. é o dono daquela casa no alto da montanha, cor-de-rosa?
Respondi:
- Sim!
- Então corre para lá que sua casa está pegando fogo.
Eu confesso que não lembro se eu disse algo a ela, só lembro que gritei chamando a minha mulher.
Ela não gostou pois eu gritei muito alto.
- O que foi?
- Vem pra cá que a nossa casa parece que está pegando fogo (aos berros).
Ela demorou para "se ligar" e quando ela chegou a porta do bar eu já estava dentro do carro fazendo a manobra para ir para casa...

CONTINUA...

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Anatomia de um incêndio - Segunda Parte

Continuação de Anatomia de um incêndio Primeira Parte

Então, como eu ia dizendo, antes mesmo da minha mulher chegar a porta do bar, eu já estava fazendo a manobra para ir para casa ver se a estava realmente pegando fogo.
Fiz um contorno em uma rótula, e fui em sentido contrário da pista onde fica o bar em que estávamos trabalhando.
A casa fica ao lado direito de quem está dirigindo, no alto de uma montanha, a cerca de 1 Km de distância, por isso minha primeira providência foi olhar para o alto a minha direita e procurar algum sinal de incêndio: Fumaça, fogo etc... Não vi nada, pensei: Deve ser um mal entendido, pode ser em uma outra casa ou ainda a tal mulher que me deu a notícia era maluca.
Então ocorreu um fato extraordinário (eu chamo este fato de experiência espiritual).
Apareceu ao meu lado, sentado no banco do carona do carro uma "entidade", astral, espiritual, angelical, isso fica por conta de cada leitor.
Minha definição: Anjo da Guarda.
Não posso em absoluto afirmar que era um Anjo da Guarda, como aliás não posso afirmar quase nada a não ser que eu vi!
Ele era forte, porém não era musculoso, tinha o peito e dorso desnudo, seu corpo era ligeiramente peludo e usava algo como uma saia de pele de animal (do tipo que ainda guarda os pelos do animal a que pertenceu) não olhou para mim, seu olhar se dirigiu o tempo todo a frente.
E ele disse repetidas vezes:
Não se preocupe que eu vou te proteger!
Não se preocupe que eu vou te proteger!
Não se preocupe que eu vou te proteger!
Repetiu várias vezes, e desapareceu da mesma maneira como surgiu.
A experiência desta visão foi tão vívida tão realista que por alguns momentos eu esqueci do até então "suposto" incêndio da minha casa.
Voltei a procurar por sinal de fumaça.
Logo cheguei a pequena rua que dá acesso ao condomínio, e ainda nada de fogo.
Cheguei a portaria e vários metros antes os porteiros abriram a cancela para que eu não me detivesse; achei isso um péssimo sinal, mas mantendo o otimismo ainda acreditava que tudo não passaria de um grande susto ou uma possível brincadeira de mal-gosto.
Continuei subindo a montanha sem sinal algum.
Aí veio a última curva e BAM! Lá estava a multidão de vizinhos e curiosos junto a vários carros do Corpo de Bombeiros.
Vi os carros (e caminhões) dos Bombeiros, mas não vi nenhum soldado, parei o carro, abri a porta e saí correndo tentando subir a rampa que leva até a garagem.
Neste momento tudo ocorreu como nos filmes de Hollywood; 3 soldados me agarraram me impedindo de prosseguir gritando:
- O sr. não pode subir existe risco de desabamento!
Eu me detive e desci junto com eles a rampa.
Me posicionei de tal maneira que pudesse ver o que estava acontecendo e começaram a cair escombros do último andar.
Só faltou eu me ajoelhar e gritar: Por que! Por que! ou então gritar Nãooooo! Como as cenas estereotipadas dos filmes.
Começaram a vir os vizinhos:
Uns chorando me abraçaram.
Outros se justificaram que não puderam fazer nada.
Outros dizendo a célebre frase que em geral não quer dizer nada: Se precisar de alguma coisa é só falar.
Neste momento surgiu a primeira informação relevante; nosso cachorro segundo a vizinha da direita estava bem, e ela havia jogado alguma comida para ele ir para longe do perigo.
Perguntei a um sargento:
- Já sabem qual a causa do incêndio?
CONTINUA...

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Anatomia de um incêndio - Terceira Parte

Esta é a terceira parte de Anatomia de um Incêndio.

Então, como eu ia dizendo na segunda parte de Anatomia de um Incêndio, eu perguntei ao sargento do Corpo de Bombeiros que estava posicionado ao meu lado:

- Já sabem qual a causa do incêndio?
Ele respondeu:

O sr. ou a sua esposa são "espiritualistas"?
Eu respondi:

- Minha esposa é.

- Parece que o fogo começou em um altar no último andar.

- Putz! (não foi bem isso que eu disse)

Eu continuei:

- E agora?

- O Tenente está lá na casa, e quando ele descer ele vai orientar o sr.
Lembrei que durante todo esse tempo desde que eu cheguei ao local do incêndio eu não havia derramado uma lágrima.

Nisso um outro Bombeiro me perguntou:

- O sr. está bem? Está se sentindo bem?

Eu respondi:

- Bom amigo, minha casa está pegando fogo, como o sr. acha que eu estou me sentindo?
- O sr. tem o direito a uma ambulância e a atendimento médico nestes casos.
- Estou bem. Respondi.
Os escombros pararam de cair, o fogo quase não era visível, só restava muita fumaça.

Mais alguns momentos e desceu o Tenente do Corpo de Bombeiros.
Um dos soldados nos apresentou, ele perguntou:
- O sr. fuma?

Pensei de imediato que a pergunta tinha algo a ver com o incêndio, até que ele puxou um cigarro do bolso do uniforme. Então respondi:
- Fumo.
- Então vamos sentar alí (na calçada da alameda)e fumar um cigarro.
Sentamos e ele começou:
- Sua casa não está de todo perdida; aliás sobrou muita coisa, nem, será necessário interditar a casa.
E o Tenente continuou:
- O sr. está se sentindo bem?
- Sim.
- Gostaria de subir e ver a situação?
- Sim, eu gostaria.
- Vou providenciar um capacete para o sr.
- Ok.
Capacete do Corpo de Bombeiros na Cabeça e lá fomos nós subindo a rampa de acesso a garagem.

CONTINUA...

Anatomia de um incêndio - Quarta Parte

Esta é a quarta parte do post Anatomia de um Incêndio.
Então, como eu ia dizendo no final da terceira parte de Anatomia de um Incêndio, coloquei o capacete do Corpo de Bombeiros e junto com o Tenente, iniciei a subida da rampa que leva a garagem da casa, a garagem nada sofreu, começamos então a subida da escada a direita que dá acesso a casa; logo percebi os primeiros sinais da destruição causada pelo incêndio, nos degraus da escada e no jardim do lado direito de quem sobe, (o lado esquerdo dá para o telhado da garagem), comecei a ver livros parcialmente queimados, cadernos manuscritos (provavelmente da nossa filha mais nova) e alguns papéis ao mesmo tempo queimados e molhados pela água do Corpo de Bombeiros.
E assim fui seguindo, logo tivemos que nos desviar de caibros ainda em brasa; telhas, muitas telhas espatifadas no chão. Viramos a esquerda para entrar pelo portão de madeira que dá acesso a entrada principal da casa (sala) antes uma mesinha de ferro com tampo de vidro, tombada junto com sua cadeira igualmente tombada; milagrosamente o tampo de vidro não se quebrou.
Passamos pelo portão, e na varanda panorâmica muitas telhas, caibros e tijolos quebrados, um pedaço de calha de bronze por onde escorria parte da água do telhado estava no chão a calha de bronze toda retorcida, subimos mais 3 degraus e o Tenente começou a falar:

- Tivemos que arrombar a porta principal para ter acesso a casa, mas acho que será possível consertar.

Entramos enfim na casa (na sala principal), tinha mais ou menos dois dedos de água no chão, muita fumaça e um cheiro indescritível de "incêndio" é um cheiro diferente de uma fogueira, ou de qualquer outra coisa que tenha queimado e que produza cheiro. Só quem é Bombeiro ou adentrou a um incêndio recém apagado pode descrever.
Subimos mais um degrau e viramos a esquerda para seguir para a escada que dá acesso ao segundo andar da casa; reparei que o interruptor automático das luzes da escada (tipo detector de presença) estava no lugar, mas parecia um chafariz, saindo água em um jato forte de uns 10 cm.
Ao subir a escada o cheiro aumentou, as paredes cheias de manchas de carvão algumas se podia notar terem o formato das mãos (com luvas) dos Bombeiros; descendo os degraus água, muita água.
Fomos direto ao sótão.
O sótão era onde ficava toda a instalação hidráulica da casa: Caixa d'água, todos os canos de entrada e saída de água para na caixa, o boiler, bomba hidráulica do boiler, no telhado do sotão as placas do aquecimento solar da água, antena parabólica, antena da TV por Assinatura, todas as principais caixas de passagens da rede elétrica ou seja fios e mais fios, cabos e mais cabos, cabos de antena, cabos de rede (computadores), cabos das câmaras de segurança etc...
Eu e minha esposa havíamos transformado uma boa parte do sótão em um pequeno apartamento, para nossas netas, portanto lá havia cama, armário de roupas, armário de brinquedos das netas, arquivos de documentos empresariais, armário de lembranças de família: fotos antigas das filhas fotos das netas quando eram bebês, muitos documentos que quase não se usam (certidões de nascimentos por exemplo), computador, uma bancada de serviços de confecção de bijouterias da minha esposa e o tal altar espiritual da minha esposa.
Tudo, absolutamente tudo foi destruído: das telhas a caixa d'água, do circulador de ar ao boiler; menos uma coisa, sim, houve uma coisa que nem ao menos chamuscou: O Altar Espiritual da minha mulher; queimou em baixo, queimou acima, queimou dos lados, mas o altar foi a única coisa intacta; ou seja o incêndio não começou ali!
Comentei ao Tenente:

- O Sargento lá em baixo insinuou que o incêndio teria começado no altar da minha esposa...

Ele respondeu:

- De forma alguma! Isso seria impossível! Visto que o altar está incólume.

Perguntei:

- Então como começou? O que causou o incêndio?

- Em minha opinião e da minha equipe, começou ali naquele nicho de fios retorcidos. (apontando para um canto).

Me lembrei que de fato ali haviam muitos fios passando, a maioria eu não fazia a menor idéia de para que serviam.

- A propósito (perguntou o Tenente) o sr. tem seguro?

- Não, não tenho.

- Então não haverá necessidade de laudo oficial.

- Eu não sei Tenente, nunca passei por isso antes.

- Nestes casos não há necessidade de perícia.

Havia de 1/2 metro a 1 metro e 1/2 de escombros. Caminhávamos (se é que se pode chamar isso de caminhada) com muita dificuldade, muita fumaça e alguns pequenos focos de fogo e com certeza muita brasa.

O Tenente falou que a laje ainda poderia ser recuperada com muita dificuldade, disse que haviam milhões de fissuras microscópicas que fariam a laje vazar água para o andar logo abaixo.

Descemos para o segundo andar da casa.

No caminho há uma porta que dá acesso a um alpendre (uma pequena varandinha toda de madeira). E o Tenente disse:

- Tivemos que arrombar esta porta também, para entrar com uma das mangueiras

Entramos no quarto que outrora pertencia a nossa filha mais nova (não morava mais conosco quando do incêndio), novamente água, muita água, no chão, nas paredes, e no teto em forma de goteira. Novamente percebi que as tomadas e interruptores, (assim como os lustres) pareciam chafarizes. Pouquíssimas coisas foram afetadas pelo fogo, mas a fumaça e a água do corpo de bombeiros fizeram um estrago considerável nos cômodos do segundo andar.
Descemos para o primeiro andar, a cozinha estava inundada, a sala de jantar estava com muita fuligem na paredes.

Pedi licença ao Tenente e fui ver o nosso cachorro (um cão da raça Akita ou Grande Cão Japonês). Ele estava muito assustado, abanou levemente o rabo e ficou deitado onde estava; fiz um carinho nele e voltei para o Tenente.

Os outros Bombeiros começaram descer.

Fomos para a varanda panorâmica e olhei para cima e vi que muitos tijolos, telhas e vigas de sustentação do telhado estavam perigosamente prestes a desabar; comentei com o Tenente e ele concordou, deu ordem para um subalterno para acabar de destruir o que estava muito perigoso.

O Soldado meteu a picareta em alguns conjuntos de tijolos e logo depois em uma viga que estava por um fio para cair. A viga caiu uns dez metros e foi certeiramente parar em uma tampa de bueiro de ferro fundido que se partiu em pedaços. Imagine se essa viga caísse numa pessoa desavisada que adentrasse a casa?
O último bombeiro desceu.
Começamos (eu, o Tenente e um Soldado) a tentar trancar as portas arrombadas.
Neste momento, meu telefone celular tocou; era a minha mulher:
- Então? Ainda tenho casa?
- Depois falamos meu amor.
- Só me diga, eu ainda tenho casa?
- Meu amor, não dá para falar agora, logo logo estarei aí com você.
Desligamos.
Demos um jeitinho nas portas, e começamos a descer a escada de acesso a garagem.
CONTINUA...

Anatomia de um incêndio - Quinta Parte

Esta é a quinta parte da série: Anatomia de um Incêndio.

Então como eu estava contando no final da quarta parte de Anatomia de um Incêndio, eu e o Tenente começamos a descer a escada que nos levaria de volta a alameda do condomínio em frente a nossa casa.
Chegamos a rua e a multidão de vizinhos e curiosos ainda estava lá, porém acrescida de mais alguns componentes. Uma viatura da PM estava nos esperando, ou melhor dizendo Me Esperando.
Mal coloquei os pés fora de casa e fui cercado por dois Policiais, um deles falou:

- O sr. é o dono da casa?

- Sim.

- Qual o seu nome?

- Respondi.

- Não, eu quero o seu nome completo.

- Respondi.

- Onde o sr. estava na hora do incêndio?

- Estava trabalhando.

- Onde?

Mais ou menos neste momento o Tenente do Corpo de Bombeiros interviu:

- O que os srs. estão fazendo aqui? Quem chamou vocês?

Os PM's não reponderam, mas (olhando para mim) disseram:

- O sr. terá que responder a algumas perguntas.

E continuou:

- Quero sua identidade e o seu CPF.

Eu respondi:

- Não está comigo, serve os números? Eu dei de cabeça.

Aí o Tenente do Corpo de Bombeiros se irritou:

- O sr. não tem que responder a pergunta alguma; a presença da Polícia Militar aqui nestas circunstâncias é completamente irregular.

O Tenente tomou as rédeas da situação e se dirigiu aos PM's com firmeza:

- O incêndio aqui não foi criminoso e o imóvel não possui seguro portanto a presença dos srs. é dispensável.

Os PM's ainda esboçaram algum movimento, mas o Tenente apontou para o seu próprio ombro (como que mostrando suas divisas de Tenente) e disse:

- A autoridade máxima aqui nesta ocorrência é do Corpo de Bombeiros e não da PM. (o PM mais graduado era um cabo).

Os PM's deram as costas e foram embora.
O Tenente acompanhou com os olhos os PM's até eles entrarem na viatura; foram embora.

Eu agradeci ao Tenente.

- Tenente, disse eu, nunca poderei agradecer sua atitude.

Ele não disse nada.

Em seguida chegou uma mulher que se apresentou como síndica do condomínio, acompanhada de um homem que esticou a mão para mim, eu retribuí, ele fez menção em me abraçar, não sei porque eu sutilmente me esquivei. Estendi a mão para a síndica (eu não a conhecia pessoalmente) ela não retribuiu, fiquei por alguns instantes com a mão estendida como um bobo.

A síndica se dirigiu ao Tenente do Corpo de Bombeiros e indagou:

- Eu sou a responsável pelo condomínio e gostaria de saber dos perigos e das implicações deste incêndio. Existe o risco de desabar e afetar outras casas?

Neste momento é que eu me lembrei que devíamos meses e meses de condomínio. E neste momento tive a exata dimensão da mesquinhez de alguns seres humanos, ela não olhou para mim, não me dirigiu a palavra e nem ao menos perguntou se eu estava bem.

O Tenente respondeu as perguntas da síndica:

- Não sra. o incêndio já foi debelado, não existe risco para ninguém, porém a sra. como responsável pelo condomínio terá que me acompanhar mais tarde para prestar esclarecimentos sobre questões de segurança do condomínio. Este condomínio está completamente irregular: Não tem brigada de incêndio, os funcionários não tem treinamento para essas eventualidades, não tem hidrantes ou extintores de incêndio ao longo das alamedas, enfim está tudo errado aqui.
O Tenente chamou um subalterno e mandou que ele anotasse o nome e o número da casa da síndica.

A mulher ficou branca, naquele momento eu tive a nítida impressão que ela estava muito mais nervosa que eu. Ela, como se diz, "perdeu completamente o rebolado".

Assim que a sindica se afastou, eu me dirigi ao Tenente e disse:

- Olha Tenente eu só tenho uma coisa e lhe dizer; muito obrigado!

O Tenente nada disse.

Perguntei a ele:

- E agora? O que eu faço?

Ele respondeu:

Aqui já está quase terminado, só vamos acabar de recolher o nosso equipamento e vamos embora, se o sr. quiser ir para conversar com sua esposa, pode ir; só quero conversar particularmente um minutinho com o sr.

Ele me levou para fora do alcance das vistas dos curiosos e disse:

- Olha sr. eu não tenho necessidade de interditar a sua casa; mas eu quero a sua palavra de honra que por no mínimo 15 dias o sr não vai mexer na casa; não quero o sr. aqui tentando reconstruir a casa nem mesmo retirando os escombros.

Eu disse:

- Ok, sem problemas, mas por que?

Ele respondeu:

- O seu relógio de luz foi desligado por nós, toda a instalação elétrica da casa foi comprometida pela água que usamos para apagar o fogo; eu preciso de pelo menos 15 dias para toda esta água descer pela força da gravidade para que o sr. chame um eletricista para começar os trabalhos de reconstrução da sua casa.

Eu disse:

- Tenente; o sr. tem a minha palavra de honra que antes de 20 dias eu não voltarei aqui senão para pegar objetos pessoais e roupas.

Ele retrucou:

Espero poder confiar no sr.

Eu disse que ele podia confiar em mim.

Apertei a mão dele, ele me deu um abraço, que eu retribui emocionado e fui em direção ao meu carro.

Entrei no carro, fechei a porta, liguei o motor, parei por alguns segundos; desliguei o motor, abri a porta e desci do carro. De algum modo o Tenente percebeu e veio em minha direção. Fui até ele e perguntei:

- Tenente, na sua experiência, como se diz para a esposa que a casa dela pegou fogo?

Ele respondeu:

- Não sei, eu assim como o sr. nunca passei por isso; mas se o sr. quiser um conselho eu acho que o sr. deve dizer a verdade sem esconder nada.

Assim, depois de apertar a mão mais uma vez de um dos homens mais honrados, que conheci em toda a minha vida, deixei o local do incêndio e fui me encontrar com a minha esposa.

CONTINUA...

Anatomia de um incêndio - Sexta parte

Esta é a sexta parte da história Anatomia de um Incêndio.
Como eu estava contando na quinta parte da Anatomia de um Incêndio; eu fui me encontrar com a minha esposa.
Sabe quando você está indo para algum lugar, mas tem uma vontade enorme de nunca chegar?
Era assim que eu me sentia, verdadeiramente eu queria que aquele trajeto de menos de 2.000 mil metros nunca acabasse. Mas acabou.
Eu enfim teria que encarar a minha mulher, a mulher da minha vida, a minha esposa e falar a verdade.
Quando estacionei ela estava posicionada a frente da única vaga disponível a frente do barzinho "cospe grosso" que tomávamos conta. Antes de eu descer do carro notei (não sei se era verdade) lágrimas em seus olhos; ela estava com as duas mãos juntas em uma posição parecida com aquela que pretende rezar.
Eu desci do carro, fui em direção a ela e a abracei, a beijei na boca, sem sensualidade, mas com muita amizade, cumpliscidade, amor. Parei de beijar, e falei no seu ouvido:

- Temos que ser fortes! Muito mais fortes que já tivemos que ser.

- Foi grave?

- Foi. Perdemos todo o último andar, toda a instalação elétrica, toda a instalação hidráulica, o telhado e a água do Corpo de Bombeiros fez muito estrago.

Continuei:

- Avise a sua mãe que vamos ter que dormir lá hoje.

- Já avisei, minha irmã está vindo aqui para nos ajudar.

Falei para ela não subir no último andar e não entrar pela porta da frente pois ainda havia risco de desabamento de escombros. Então, alguns que estavam no bar se aproximaram (aqueles que estavam desde quando eu recebi a notícia do incêndio); e começou; como foi? Perdeu tudo? Foi incêndio mesmo? Onde começou?
Respondi da melhor maneira possível e voltei a trabalhar enquanto esperávamos a minha cunhada, para levar minha mulher a casa e pegar objetos pessoais.
Ela chegou, na verdade meu sogro dirigia o carro e minha cunhada estava no banco do carona, insisti com ambos para que não subissem ao último andar e muito menos que deixassem minha mulher subir ao local específico do incêndio, havia perigo de se queimar, (brasas etc...), desabamento de paredes e fora o aspecto psicológico, afinal estava muito recente.

Claro que a primeira coisa que fizeram foi subir diretamente ao local do incêndio...
Logo recebi uma ligação da minha mulher dizendo que ainda haviam focos de incêndio e que o meu sogro teve que apagar um deles com um balde de água.
Minha mulher me falou por telefone:
- Foi um balão, dá para ver a bucha ainda pegando fogo...
Óbvio que não, do contrário os vizinhos e os bombeiros teriam dito algo. Mas ela continuou por muito tempo falando no tal balão.

Eu continuei atendendo aos clientes...

Um deficiente, muito conhecido da área estava lá, sempre tentando conseguir uma cerveja grátis em sua cadeira de rodas, era sempre a mesma história, ele pagava uma e depois fazia uma cara de "gato de botas" do desenho Shrek; convidava alguém para sentar com ele e... pronto! Caiu na armadilha ele bebia "todas" e só pagava a primeira.

A proprietária da qual eu arrendava o horário também estava lá, bêbada como nunca. Tentava ser solidária comigo e com a minha esposa, mas o álcool falava mais alto e ela não conseguia coordenar bem as idéias.

E uns outros que não eram clientes habituais.

A proprietária do prédio desceu para beber, pediu uma mesa, eu atendi e diante dos olhares tão diferentes ela perguntou:

- Aconteceu alguma coisa?

Eu respondi:

- Minha casa pegou fogo!

- O que?

Ela começou a rir, pensando que era brincadeira e levou um bom tempo até se convencer que não era piada.

Passou um tempo e lá vem o carro da minha cunhada com meu sogro e minha mulher dentro. Pude perceber que ela havia trazido roupas e travesseiros.

Fui em direção ao carro e ela me falou algo do tipo: daqui a pouco estarei de volta.

Eu continuei lá, atendendo aos clientes e rezando para minha esposa voltar.

Ela voltou, voltou diferente, como se nada tivesse acontecido, no início não entendi, mas depois percebi que era a maneira dela de parecer forte diante do acontecido.

Me ajudou a servir algumas cervejas.
Depois eu coloquei duas cadeiras a beira da calçada de maneira que poderíamos sentar juntos, porém sem perder a visão total do bar.

Demos as mãos.

Nisso o deficiente pediu uma Antarctica, eu disse a ele que havia acabado e só tínhamos Itaipava no que ele reclamou:

- Mas eu comecei a beber Antarctica e não quero mudar de marca agora.

A proprietária do comércio que eu arrendava tentou intervir dizendo:

- Puxa! Mas também não é assim, quem bebe uma bebe todas...

O deficiente continuou:

- Eu sou exigente, se comecei a beber uma marca não vou trocar...

Eu me levantei e falei:

- Meu irmão eu não estou nem aí para a sua exigência; minha casa pegou fogo e eu não quero saber se você gosta de beber Antarctica ou Itaipava! (falei com certa grosseria)

Depois olhei para o lado e chorei.
Voltei para minha mulher e disse:

No dia tal eu devolver a sua casa. (coisa que eu nuca deveria ter dito, mal tínhamos dinheiro para comprar comida)
Aos poucos as pessoas foram indo embora.
Por volta das 10 ou 11 da noite eu falei:

- Sabe do que mais? Vamos fechar!

Continua...

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Copa do Mundo

A Copa do Mundo na África do Sul revelou que tentativa e erro podem levar a um bom termo:
A Espanha levou 80 anos importando craques do futebol do mundo inteiro observando eles jogarem, imitando-os passo a passo e finalmente após 8 décadas de tentativas conseguiram ser campeões mundiais.
Que alegria!

Dia das Mães, como tudo começou.

O Dia das Mães como nós conhecemos hoje, começou com a morte da norte-americana Ann Maria Reeves Jarvis.
anne-maria-jarvis
Ann Maria Reeves Jarvis
 
Sua filha Anna Maria Jarvis ficou profundamente deprimida com a perda; então suas amigas resolveram organizar uma festa para homenagear a mãe da amiga. Anna gostou da ideia e resolveu estender a homenagem a todas as mães vivas ou não.
 
Logo a coisa se espalhou pelo Estado da Virgínia (EUA), mais tarde por todo os Estados Unidos.
Em 1914 o Presidente Wilson determinou o dia 9 de maio como dia das mães.
Anna_jarvis
Anna Maria Jarvis
Já Em Idade Avançada



No Brasil a data foi oficializada pelo Presidente Getúlio Vargas em 1932 como sendo o dia das mães o segundo domingo de maio.
 
O Dia das Mães é a segunda data mais importante para o comércio no Brasil, só perdendo para o Natal.
 
Os comerciantes deveriam erguer uma estátua a Ann e Anna Jarvis; afinal o que seria do comércio sem a depressão da filha em função da morte da mãe.
Jorge Costa – O Rescator

Nascidos em abril.

Adolf Hitler - 20 de Abril de 1889.

Charlie Chaplin - 16 de Abril de 1889abril

Carlos Luís Bonaparte (Napoleão III) - 20 de Abril de 1808

Juan Miró - 20 de Abril de 1893

Ryan O'Neal 20 de Abril de 1941

Jessica Lange 20 de Abril de 1949

Antônio de Oliveira Salazar (Ditador Português) - 28 de Abril de 1889

Ditadores (e\ou tiranos) e grandes artistas nasceram em Abril; Adolf Hitler, Salazar e Charlie Chaplin inclusive no mesmo ano. Mera coincidência?

Jorge Costa – O Rescator