Entreguei a Jesus Cristo, o único intercessor junto a Deus minhas dívidas e minhas angústias, fui para o hospital sem dinheiro ou documentos. Fui a pé, no meio do caminho já o barbeiro da vizinhança me viu sofrendo e me levou de carro. Já sem enxergar de um olho devido a infecção e com o outro comprometido, fui imediatamente internado, 12 horas mais tarde e morreria por septicemia. Bondosa médica preocupou-se imediatamente comigo. Não sabiam exatamente que tipo de tratamento deveriam me dar. Após um poderoso analgésico, começaram a me aplicar um combinado de antibióticos. Todos atenciosos e compadecidos, porém por determinação do Prefeito não é dado aos pacientes: Roupa de cama, travesseiros, cobertores, lençóis ou trajes; tão pouco sabonete, toalha ou dentifrício.
Febre alta, ar-condicionado da enfermaria, frio, insisti que me dessem algo para me cobrir, negado, disse que estava com frio, negado pela segunda vez.
Desisti; minha mente não conseguia mais se concentrar nem mesmo para rezar.
O barulho me impedia de dormir.
Um enfermeiro homossexual, roubou um traje de papel feito de algodão cru de uma sala de cirurgia, com ele consegui cobrir ligeiramente meus pés gelados. Bondosa médica volta, diz estar preocupada comigo, não está certa do que está havendo, eu disse: Celulite subcutânea aguda causada por infecção dentária. Ela se vai.
Mais injeções através do equipo do soro fisiológico a 5%.
Frio, muito frio. Imploro por um lençol. Negado.
Entre um apagamento e outro, mais injeções e medidas de temperatura. Alguém se aproxima; é o barbeiro da vizinhança, me pergunta: Posso fazer algo por você? Envergonhado, muito envergonhado imploro por um cobertor e se possível um travesseiro. Ele disse que voltaria trazendo ambos. Dirigiu 15 quilômetros de estrada escura até sua casa e mais 15 para voltar trazendo um cobertor e um travesseiro. Dormi 1 hora. Me agarrei aquele travesseiro como criança pequena ao colo da mãe.
Jantar: chuchu com carne moída, boca não abre devido aos inchaços, recusei, o paciente ao lado pediu a mim minha quentinha, dei. Tentei o refresco de abacaxi, nada, boca não abria. Deitei, silêncio, tanta fome calou os outros pacientes, que comiam como se última vez fosse, dormi. Dormi e dormi. Acordei, olhei o relógio, dormi apenas hora e meia. Mais injeções. Primeira noite, mente nebulosa pelos medicamentos, fome e febre. Tentei rezar, não consegui. Uma vez mais Jorge tente se concentrar… Vamos: Pai Nosso que estás nos céus… Mente divaga, olho para o leito do cara com erisipela bolhar, Vejo um vulto enorme de uns 3 metros próximo ao seu leito, era um médico com a farda da Marinha Americana da Segunda Guerra Mundial, ele estava contente com o que vira, aguardei a minha vez de ser inspecionado pelo espírito do médico americano, ele não veio, desapareceu entre os outros leitos. Fechei os olhos e pensei: Deus deve mandar alguém para dar uma espiadela no meu caso. Tentei rezar outra vez: Dessa vez vai; Pai Nosso que estás… nada, Vamos lá Jorge, você é forte, você é um cavalo, não vai conseguir rezar agora? Pai nosso que estás nos céus, Santificado seja o vosso nome… apaguei no meio da reza…
Dormi, dormi bem, pensei que já iam servir o café, apertei o botãozinho do relógio que ilumina; idiota, são duas da manhã.
Tentei levantar para urinar, não consegui, uma vez mais, sim, fiquei sentado, soltar o frasco de soro do estandarte foi moleza, agora era só chegar ao banheiro. Moleza. Voltei. Frio, mas desta vez eu tinha uma coberta e um travesseiro.
Disse: Deus me proteja.
Amanheceu, café da manhã, pãozinho com manteiga e copo descartável de café com leite. Boca não abria, tentei partir em pequenos pedacinhos para enfiar entre os lábios; o paciente ao lado torcendo aflito para que eu não conseguisse já de olho no meu pãozinho. Desisti, entreguei meu pãozinho e meu café para ele.
Hora do banho: Consegue levantar sozinho? Sim consigo. Nu, banho quente, delícia, sem toalha, isso é péssimo, visto as roupas com o corpo ainda molhado e volto para a cama, ar condicionado, febre, nem dez cobertores me esquentariam mesmo que por debaixo delas estivessem junto a mim Marilyn Monroe e Sophia Loren. Desmaiei.
Almoço: consegui dar duas colheradas no seja lá o que era; já sabia o caminho: Leito ao lado.
Tarde: Fui ao banheiro, tomei coragem e me olhei no espelho: Homem Elefante, mas lá bem no fundo consegui ver um pedacinho do meu globo ocular. Vou vencer.
Jantar: Bati meia quentinha de carne moída. O restante vocês já sabem para onde foi. Olhei para ele e me parecia satisfeito com doses duplas de ração.
Noite infernal, mal posso lembrar.
Café: Comi tudo, pãozinho, manteiga e café com leite.
Decisão médica: O sr está melhor, já se pode ver quase todo seu olho direito. Pedi alta, negado, levantei e pedi para chamar a assistente social, veio, expliquei toda minha situação financeira, ela foi negociar com a médica responsável. Médica e Assistente Social vieram, queriam que eu ficasse mais sete dias, eu disse que eu não teria mais para onde ir se não saísse imediatamente. O sr fica até a hora do almoço, vou comentar seu caso com a direção do hospital.
Nada de almoço. Médica, Assistente social e um médico com cara de Papai Noel vieram e discutimos, venci! Com algumas condições. Chegou a quentinha, deitei na cama do meu colega de “refeitório” com ele nela; ele riu muito, abri minha quentinha, dei duas ou três colheradas e entreguei o resto para ele, todos na enfermaria riram muito, e me desejaram sorte.
Rua.
Dois dias sem ver a luz do sol.
Atravessei as 4 pistas da Francisco da Cruz Nunes e fui procurar uma parada de ônibus. Achei.
Fiz minha matemática: R$ 7,80. Preço da passagem R$ 2,75. Peguei o 38. 15 minutos, saltei.
O Alexandre dono da borracharia da esquina falou, você parece melhor; olha, aproveitando eu queria te dizer que as coisas não estão nada bem para o seu lado. Eu agradeci.
Depois desta recepção; fui a barbearia, agradeci comovido ao barbeiro o travesseiro e o cobertor.
Voltei, fui falar com meu vizinho dono do bar ao lado do meu. Ele havia ficado com as chaves do meu bar.
Ele sorrindo disse: Graças a Deus, você está melhor.
Perguntei se haviam cortado a luz do bar por falta de pagamento. Ele disse sim, cortaram.
Pensei em alguma coisa tipo como vou dormir ou como vou trabalhar, mas logo parei.
Resolvi contar minhas bênçãos: Estava vivo. Não tinha dor. Mesmo sem luz tinha um teto ao menos por uma noite. Tinha o que comer e poderia tomar um banho decente.
Quando o vizinho me devolveu a chave, resolvi abrir o bar para resolver o que pudesse ainda com luz do dia.
Surpreendentemente a TV estava ligada! Cocei a cabeça. Não entendi nada. Acendi algumas lâmpadas para confirmar se havia luz mesmo no bar. Havia.
Mostrei ao vizinho, ele não entendeu nada e confirmou que estava presente quando cortaram a luz.
Contei mais uma benção.
Fraco mas feliz, ainda com os esparadrapos e algodões grudados ao ante-braço comecei a abrir a casa.
Gostaria agora de interromper a narração para contar um episódio do Evangelho: Logo após Judas Scariotes trair Jesus Cristo com um beijo, por trinta moedas de prata, os soldados do Sinédrio agarraram Jesus e Pedro sacou uma espada decepando a orelha do Soldado Malco. Jesus repreendeu severamente a Pedro e disse: Quem viver pela espada morrerá pela espada. Você acha, que se pedisse ao meu Pai Celestial um Exército de Anjos para me defender Ele não enviaria? Bem, o resto todos sabem; Jesus curou a orelha de Malco e seguiu resignado para o seu martírio.
Voltando onde parei, comecei a abrir o bar, já que havia luz e um pouquinho de mercadoria, não fazia sentido em ficar parado. Então começou o inesperado, mesmo sem eu pedir, Deus em sua infinita misericórdia enviou um exército de Anjos para me proteger e defender.
Primeiro foi meu vizinho, dono do bar ao lado; aquele que deveria ser teoricamente meu concorrente, mandou entregar duas caixas de cerveja no meu bar sem custo. Ele veio, apertou minha mão e disse eu e minha esposa te amamos, depois, vieram umas pessoas que eu não conhecia (e continuo sem saber quem são) e me ofertaram dinheiro, primeiro foi sessenta reais, depois quarenta. Um advogado que mora no final da rua veio ao meu encontro e disse: Fizemos uma coleta, toda a rua contribuiu; seiscentos reais. O guardador de carros me entregou cento e vinte reais do seu próprio bolso, comecei a chorar. O colocador de azulejos da obra em frente me entregou sessenta reais, eu, agora aos prantos disse que não poderia aceitar; logo vieram mais e mais; três adolescentes vieram me abraçar chorando e dizendo, nós te amamos como a um pai. Pedi uma cadeira e com as mãos tapando o rosto chorei como nunca havia antes.
Chegou um carro cheio de compras para mim. Comida, bebida, material de higiene e tudo o mais.
Um casal que eu conheço muito superficialmente aqui no bairro, chegou e disse soubemos que você tem um monte de remédios para comprar, nós queremos as receitas para ir a farmácia. Eu disse aos prantos não posso aceitar, eles enfiaram a mão no meu bolso traseiro e pegaram as receitas, o farmacêutico deu 50% de desconto nos meus medicamentos caixas e mais caixas de remédios para 10 dias.
O borracheiro que não gosta de ninguém veio, me abraçou e apertou a minha mão.
Lavaram todo o meu bar, limparam a privada do banheiro, louças, mesas e cadeiras.
A empresa dona da mesa de sinuca, disse que me daria um prazo indeterminado para pagar a dívida.
Neste momento chegou o meu senhorio, ele não sabia de nada, assuntou com as pessoas e disse vou ficar uns dias sem aparecer aqui, depois conversamos.
Logo, todos estavam bebendo e jogando sinuca no meu bar, eles na pratica bebiam, comiam e jogavam sinuca, com as mercadorias que eles mesmos haviam me ofertado, pagavam e colocavam o dinheiro no meu caixa, sempre com sobras a título de gorjetas.
Contei, não mais uma benção, contei um milhão de bênçãos.
Eu sei que não mereço nada do que recebi.
Ele mandou ou não um exército de Anjos para me proteger?
Só um Pai infinitamente generoso e bondoso, piedoso poderia fazer isso.
Jesus Cristo eis aqui meu testemunho de seu Poder e Glória. Espero não ter lhe decepcionado.
Louvado Seja O Senhor Jesus Cristo.
CARA!
ResponderExcluirSEM COMENTÁRIO.
ABS DO BETO.
OLÁ.
ResponderExcluirO QUE HOUVE.
SUMIU?
ABS DO BETO.