O Maior Banquete da História.

 

O Maior Banquete da História

Foi na Índia para 68.000 pessoas.

A índia desde os anos 1600, sofreu uma influência quase colonial por parte da Companhia Inglesa das Índias Orientais, mais tarde chamada de Companhia Britânica das Índias Orientais, essa entidade comercial tinha um contrato de monopólio concedido pela Rainha Elizabeth I por um período de 15 anos, mais tarde esses direitos passaram a ser da Coroa Britânica.

Rainha Elizabeth I

A Índia Britânica:

Mais conhecido como Raj britânico, era formado pela própria Índia, o atual Paquistão, Bangladesh (antes chamado de Paquistão Oriental) e Mianmar (antes conhecida como Birmânia). Tudo começou com a transferência do contrato de concessão de exploração comercial da Companhia Inglesa das Índias Orientais para a Coroa Britânica em 1858, este domínio colonial durou até 1947.

A Companhia Inglesa das Índias Orientais:

Foi uma companhia majestática formada por comerciantes de Londres em 1600, com o nome de “Company of Merchants of London Trading to the East Indies”. As companhias Majestáticas (também conhecidas como companhias privilegiadas ou companhias de carta) eram um  recurso utilizado por países para deixar nas mãos de comerciantes e empreendedores muitas vezes mais ricos que seus países e as coroas monásticas a possibilidade de invadirem e explorarem comercialmente (com direitos de monopólio) áreas, territórios e países inteiros sem a intervenção direta de seus governos; no entanto, caso fosse necessário algum tipo de apoio militar esses países estavam prontos a auxiliar militarmente essas empresas.

Em maio de 1857, soldados indianos (tanto hindus quanto muçulmanos) do exército regular da Índia britânica, (conhecidos como sipaios), rebelaram-se em Meerut, marcharam sobre Délhi a capital da Índia Britânica e ofereceram seus serviços ao imperador mongol Bahadur Xá II. Assim, o norte e o centro da Índia entraram em uma guerra que durou cerca de um ano, dirigida contra a Companhia Britânica das Índias Orientais.

Bahadur Xá II

Muitos regimentos nativos e reinos indianos juntaram-se à revolta, enquanto que outras unidades e reinos indianos apoiaram os britânicos.

O Governo Britânico interviu na situação, sufocou a rebelião e dissolveu a Companhia Britânica das Índias Orientais. Para consolidar a supremacia britânica na região e mandar uma mensagem ao povo em geral, a Rainha Vitória recebeu em 1877 o título de imperatriz da Índia.

Rainha Vitória

Aconteceu mais ou menos o seguinte: Acabou a brincadeira, quem manda aqui é o governo britânico e os governadores da Índia Britânica passaram a ser os Vice - Reis da Índia (britânicos escolhidos pelo monarca inglês). Foi criado o título de Imperatriz da Índia e a primeira a receber este título foi a Rainha Vitória.

Em 1877 a Rainha Vitória recebeu o título de imperatriz da Índia e para comemorar, o Vice-Rei da Índia Lorde Lytton, resolveu oferecer um banquete para celebrar a data.

Robert Bulwer-Lytton:

Lord Lytton

Nasceu em 08 de novembro de 1831 e morreu em 24 de Novembro de 1891. Era o primeiro conde de Lytton, escritor, poeta e político. Escreveu livros sobre banquetes, comportamento à mesa e etiqueta. Condecorado com: Ordem Mais Honorável Militar do Banho, Ordem da Estrela da Índia, Ordem do Império Indiano e membro condecorado do Conselho Privado do Reino Unido. Foi vice-rei da Índia entre 1876 e 1880.

Lord Lytton passou o ano de 1876 organizando o festival em forma de banquete para celebrar a coroação da Rainha Vitória como Imperatriz da Índia. O banquete foi oferecido para sartrapas, príncipes, marajás e toda a sorte de colaboradores do império britânico. Foi realizado em um platô de Délhi a capital da Índia Britânica.

Biryani é um arroz com especiarias

Os poucos artigos que contam a história deste que foi o maior banquete de todos os tempos e a maior festa organizada que se tem notícia, não entram em detalhes quanto ao cardápio e bebidas servidas. Mas, não é difícil fazer especulações bem confiáveis para se ter uma noção de quanta comida foi consumida. vou tomar por base um prato tradicional indiano consumido em casamentos e festividades em geral (inclusive festividades religiosas); o biryani.

Biryani é uma delícia da culinária indiana/paquistanesa, a receita a seguir serve 6 pessoas, portanto eu fiz os cálculos baseado nesta proporção.

• 4 colheres (sopa) de azeite de oliva ou ghee (manteiga clarificada)
• 4 batatas pequenas descascadas e cortadas ao meio
• 2 cebolas grandes picadinhas
• 2 dentes de alho picados
• 1 colher (sopa) de raiz de gengibre fresco picado
• 1/2 colher (chá) de pimenta chili em pó
• 1/2 colher (chá) de pimenta-do-reino em pó
• 1/2 colher (chá) de açafrão-da-terra em pó
• 1 colher (chá) de cominho em pó.
• 1 colher (chá) de sal
• 2 tomates médios descascados e picados
• 2 colheres (sopa) de iogurte natural
• 2 colheres (sopa) de folhas de hortelã fresca picada
• 1/2 colher (chá) de cardamomo em pó
• 1 canela em pau (5 cm)
• 1,3 kg de pedaços de peito de frango

Para o arroz:

• 450 g de arroz basmati
• 2 1/2 colheres (sopa) de óleo vegetal
• 1 cebola grande cortada em cubos
• 1 pitada de açafrão em pó
• 5 vagens de cardamomo
• 3 cravos-da-índia inteiros
• 1 canela em pau (2,5 cm)
• 1/2 colher (chá) de gengibre em pó
• 1 litro de caldo de galinha
• 1 1/2 colher (chá) de sal

Como a receita serve seis porções, eu fiz os cálculos para fazer 11.000 receitas iguais a essa o que serviria uma porção completa de Biryani para 68.000 pessoas.

1. São 660 litros de azeite ou 8, 8 toneladas de manteiga.
2. 4 toneladas e meia de batatas.
3. 22 mil cebolas inteiras.
4. 2.200 cabeças de alho.
5. 1.650 quilos de de raiz de gengibre.
6. 28 quilos de Pimenta chilli em pó.
7. 28 quilos de Pimenta do reino em pó.
8. 28 quilos de Açafrão da terra.
9. 28 quilos de açafrão-da-terra em pó.
10. 56 quilos de cominho em pó.
11. 56 quilos de sal.
12. 3 toneladas e meia de tomates.
13. 340 litros de iogurte.
14. Algo como 30 quilos de folhas de hortelã.
15. 28 quilos de cardamomo em pó.
16. 11.000 lascas de canela em pau.
17. 15 toneladas de peito de frango.

Para o arroz:

• 5,1 toneladas de arroz basmati.
• 419 litros de óleo.
• 2,75 toneladas de cebolas.
• 1 quilo e 100 gramas de açafrão.
• 56.000 vagens de cardamomo.
• 34.000 cravos da Índia.
• 11.300 paus de canela.
• 28 quilos de gengibre em pó.
• 11.300 litros de caldo de galinha
• 28 quilos de sal.

Para fazer este prato servindo 86.000 comensais, foram gasto no total algo como 45 toneladas de alimentos. Só, que talvez você não tenha acompanhado o raciocínio; então eu vou explicar melhor: Essas quase 45 toneladas de alimentos, foram só para uma única refeição!

Se nós multiplicarmos por dois (digamos almoço e jantar) serão 90 toneladas de alimentos, multiplicando por 7 dias de festa, teremos 630 toneladas de alimentos.

Bom, os convivas não iam para casa após cada refeição, eles ficavam por ali, até dormir e voltavam para o desjejum. O que eu quero dizer com isso é que eles “tomavam café-da-manhã”, almoçavam e jantavam, fora isso, tinham o repasto, o lanche, os doces e sobremesas, vinhos, whiskies, água (muita água,

Além de ter Sido o Maior Banquete da História, foi Também uma Grande Festa

pois antes e durante o banquete estava um calor insuportável), refrescos e pratos alternativos para os vegetarianos (não esqueçamos que estamos falando da Índia onde a maioria dos nativos são vegetarianos radicais). Não fiz as contas, mas creio que falar em 1.000 TONELADAS de alimentos não estou muito longe da realidade.

Acontece que, antes, durante e depois do maior banquete da história, ocorreu uma das maiores secas da história da Índia.

Toda aquela região depende do fenômeno climático chamado monções.

As monções:

A palavra monção vem do árabe mausim que quer dizer tão somente estação. Porém na Índia e em boa parte da África esta palavra é associada a chuva.

As semeaduras e colheitas, são feitas baseadas na chegada e época das monções.

Antes, durante e depois do maior banquete da história, as monções não vieram, alguns acreditam que foi devido ao fenômeno climático que hoje é conhecido como “El Niño” (deixo claro aqui que eu não partilho desta opinião).

As chuvas não vieram, possivelmente foi a maior seca da história da Índia, em questão de meses milhares de pessoas começaram a morrer de fome. A maior parte da população da Índia é vegetariana, na falta de água os vegetais são os primeiros a morrer.

Na Índia a Vaca é Sagrada

A Índia tem o maior rebanho bovino do mundo, porém lá a vaca é considerada um Deus (Deusa se preferir), as vacas andam pelas ruas sem serem molestadas, podem entrar nas casas e prédios públicos. Só para constar: O segundo maior rebanho bovino do mundo é o do Brasil; aqui a carne deveria ser baratíssima, mas não é, apenas por questões de política comercial.

Morrendo os vegetais rapidamente, igualmente rápido as pessoas começaram a morrer, a morrer de fome; enquanto isso, lorde Lytton, trabalha nos preparativos para o maior banquete do mundo; muito da dignidade humana morreu durante o maior banquete do mundo.

As Mortes na Índia começaram logo no início da seca.

Com o passar dos meses (e depois anos, pois a seca durou muito tempo) qualquer reserva alimentar do povo havia acabado. Logo de início, as mortes foram contabilizadas na casa dos milhões de seres humanos, sim, milhões. Guerras como a 1ª e a 2ª Grande guerra levaria anos para contabilizar mortes na casa dos milhões, enquanto a seca e a fome na Índia, logo em seus primeiros meses alcançavam essas cifras.

As Maiores Vítimas da Fome na Índia foram as Crianças.

Ao saber das milhões de mortes no interior da Índia o Vice-Rei Lord Lytton justificava os acontecimentos com base na teoria do Darwinismo Social uma pseudo ciência que pregava que os fracos e não evoluídos deveriam morrer mesmo, era natural; e que os fortes e articulados deveriam prevalecer.

Poucos se Compadeceram desta Situação.

Uma ou outra pessoa do staff britânico se compadeceu da situação, porém foram prontamente repreendidos e voltaram atrás em suas tentativas de ajuda.

Crianças deformadas pela inanição.

Enquanto milhões morriam de fome, na maior festa do mundo, 68.000 Sátrapas, Príncipes, colaboradores, amigos do Império Britânico, embaixadores das nações amigas, cônsules, grandes empresários, Rajás, Marajás e toda a sorte de puxa-sacos que se pode imaginar se empanturravam com toneladas de comida boa e sofisticada, com toda a pompa e circunstância que a ocasião requeria.

Durante o Maior Banquete da História os Britânicos não esqueceram as Boas Maneiras

Como toda a indiferença britânica a mortandade de seres humanos de fome na Índia era embasada na “ciência” do Darwinismo Social, na Eugenia e na ideia de racismo científico; intervir para impedir essas mortes era como tentar interferir com a natureza.

Lord Lytton desprezava os indianos.

Você que está lendo este artigo pode pensar: Bom, mas não deixa de fazer sentido, afinal foi uma catástrofe climática e o fato de na mesma época ter sido realizado a maior festa da história do mundo, o maior banquete jamais realizado, não tem uma relação direta com a fome na Índia devido a seca. Não é bem assim. Com relação ao banquete, 1.000 toneladas de alimentos caros e sofisticados, destinados a libação de riquíssimas pessoas, teriam amenizado muito o número de mortos pela fome, principalmente se este investimento fosse direcionado para alimentos mais simples com o intuito, não de diversão, mas sim tão somente de alimentação. O segundo ponto, o de ter sido um fenômeno climático e não uma interferência inglesa, não é bem verdade. Fenômenos climáticos sempre ocorreram (e sempre ocorrerão), no entanto, no decorrer de séculos os seres humanos foram aprendendo a se preparar, se prevenir e a conviver relativamente bem, com secas, enchentes, frio ou calor extremos.

Famílias Inteiras Morreram de Fome.

Antes da invasão inglesa, as culturas agrícolas eram pouco mais que culturas de subsistência ou seja o pouco que se plantava, se mantinha com pouca água, quem tinha um pouco mais de alimento, dava, emprestava ou trocava por trabalhos que seriam executados posteriormente.

Crianças Como Mortas-Vivas estavam por Toda a Parte.

Após a intervenção britânica (a base da força) na cultura, costumes e tradições dos povos indianos, eles ao longo dos séculos foram incentivados a plantar e a colher para ganhar dinheiro e não para se alimentar. Alimentos plantados a séculos pelos nativos deixaram de ser cultivados por não serem lucrativos para o capitalismo inglês e norte-americano. Muitos, deixaram de plantar arroz por exemplo para plantar índigo (anil), para tingimento de roupas e principalmente usado na fabricação de jeans. O problema é que índigo não é comestível, muito menos jeans. Isso é só um exemplo. Haviam sistemas antigos de convívio, que impedia que o que era escassez, virasse fome mortal.

As Rações Distribuídas eram tão escassas que não salvavam vidas, só adiavam.

Os britânicos forçaram essas pessoas a plantarem para a exportação, para ganhar dinheiro e assim como índigo e jeans, dinheiro não se pode comer. Inseriram em nome da civilização os indianos em um mercado global, mercado esse que o povo, a cultura e sobretudo a terra não estavam preparados.

Como Europeus "civilizados" e instruídos podiam aceitar esta situação?

Durante o período em que ocorreu o maior banquete da história, pais vendiam os filhos, por um pouco de comida. Milhares suicidaram-se  e casos de canibalismo foram registrados no sul e na região central da Índia

O Desespero por comida levaram as pessoas ao extremo.

Enquanto isso, no porto de Madras, estavam empilhados toneladas e mais toneladas de alimentos de safras anteriores prontas a serem exportadas para a Europa e para os Estados Unidos. Eu consegui ler alguns trabalhos, que não pude confirmar a autenticidade ou a consistência dos dados, mas que serve para pensar: Todo alimento estocado e posteriormente exportado que estavam nos portos da Índia, se tivessem sido direcionados a população, teria impedido a morte de milhões e milhões de famintos.

Muitas Vezes não existem palavras para definir a estupidez humana.

A indiferença de Lorde Lytton e de todas as autoridades britânicas, a devoção ao capitalismo, e a crença fervorosa de que o que estava acontecendo era muito natural, pois que os que morriam de fome não mereciam ajuda porque eles eram POBRES, inúteis; e assim, com toda a calma do mundo, assistiram de camarote e com suas panças cheias de comida, o coração empedrado, e a mente lotada de fé racista a morte de milhões de inocentes.

Segundo o Racismo Científico Eles deveriam Morrer, pois eram pobres inúteis

Não existem adjetivos ou superlativos para definir a morte por fome neste período na Índia; nenhum livro épico teve descrições tão terríveis; eu não posso utilizar a expressão: “A morte por fome na Índia foi de proporções Bíblicas!”; não, eu não posso; nem na Bíblia existiu uma calamidade destas proporções.

Foto Tirada durante a Maior Festa Organizada da História

Um holocausto destas dimensões não poderia ficar sem protestos internacionais. Pressionado, Lytton acabou traçando um plano de auxílio aos famintos (já haviam morrido milhões de seres humanos).

Os planos de Lytton, mais pareceu uma piada de humor negro, mais pareceu um plano de aceleração da morte, muitas vezes com requintes de crueldade sem precedentes em toda a história do planeta.

Uma das primeiras leis decretadas por Lytton era de que ninguém poderia ser ajudado a menos de 16 quilômetros de sua residência. Isso queria dizer que você deveria andar para longe de sua casa (de sua aldeia). Desesperados, milhares de pessoas começaram a se afastar de casa caminhando em busca de alimento do governo. Pessoas fracas pela fome, doentes em sua maioria, morreram em um trajeto que ia da fome a morte, em sua grande maioria não conseguiram mais que um punhado de arroz cru.

A assistência em forma de comida, só poderia ser dada após este teste que era de afastarem-se de suas casas mais de 16 quilômetros, quem conseguia sobreviver após se deslocar a pé por centenas de quilômetros, não recebia comida, era levado a trabalhar para merecer um pouco de comida, eram postos a quebrar pedras, trabalhar na construção de ferrovias e abertura de estradas; só então eram levados a campos de concentração onde recebiam uma ração que estudos posteriores comprovaram ser em menor quantidade que os oferecidos em campos de concentração nazistas na 2ª Guerra Mundial.

Esses campos na prática se tornaram campos da morte, campos de extermínio.

8 milhões de seres humanos morreram de fome em cinco anos entre 1875 e 1880.

Nos anos 1880 e 1890 a seca e a fome voltaram a assolar a Índia e nada foi feito, homens, mulheres, idosos e crianças, foram literalmente deixados de lado para morrer de fome.

Foram aproximadamente 10 milhões de mortos de fome por década, perfazendo um total de cerca de 30 MILHÕES de pessoas mortas de fome durante o domínio britânico na Índia. As mortes nas duas Grandes guerras Mundiais, não chegaram nestes números, nem com fome, com balas, tanques, canhões, gazes venenosos e duas bombas nucleares.

Uma coisa temos que reconhecer: Quando os ingleses fazem alguma coisa, eles fazem bem feito.

Não adianta conversar sobre isso com um inglês (britânico), mesmo que ele tenha 50 ou mais anos de idade; tudo isso que eu relatei foi retirado dos livros de história da Inglaterra. Eles não aprenderam na escola, e na maioria das universidades não se toca no assunto. A imensa maioria dos súditos de Sua Majestade a Rainha da Inglaterra não tem a menor ideia que isso aconteceu; o mais provável é que te chamem de mentiroso.

O Maior banquete da historia, teve como sobremesa provavelmente a maior desgraça humana da história.