domingo, 30 de dezembro de 2012

É possível Pregar as Palavras de um Pregador?

  "Minha missão é pregar o Evangelho”

pregador
Pregadores de Paulo

Estava escrito em um convite para uma "pregação" de um missionário aqui na cidade onde moro.

Eu fui. Não tinha nada melhor a fazer e resolvi ver como são essas pregações de missionários.

Boa "igreja", não pentecostal (se fosse eu não iria a não ser para denunciar a farsa do pentecostalismo).

Legal, cadeiras simples, pregador-missionário vestido normalmente (sem paletó e gravata) cercado de ajudantes e um monte de admiradores e porque não dizer seguidores (as) (a maioria eram mulheres).

Uma hora de palestra e o camarada só falou de Paulo (o Apóstolo Paulo ou São Paulo como é tratado pelos Católicos).
Paulo de Tarso e a juventude
Paulo de Tarso Escreveu Cartas

Foi Gálatas pra lá, Corintos pra cá, Efésios etc...

De Jesus, nada ou quase nada.

Evangelho? (marcos, Mateus, Lucas e João) nem pensar.

Isso suscita uma pergunta interessante: é possível pregar a palavra de um pregador?

Lembre-se Jesus não pregava, ele “dizia”, Ele era “A Palavra”

Ele era o Verbo (que se tornou carne).

Paulo era um pregador.

Paulo em suas andanças pregava o Evangelho: "A Boa Nova" a "Boa Notícia", mas em suas cartas, (epístolas) ele nem sempre ou quase nunca fala sobre as palavras de Jesus).
Por que?
Atos dos apstolos
Apóstolos Estavam Juntos

Porque Jesus havia morrido a cerca de oito anos (talvez um pouco mais) quando Paulo de Tarso passou a pregar o que mais tarde se tornaria o Cristianismo. Nesta época não havia os evangelhos como nós conhecemos hoje em dia. A maioria dos apóstolos que seguiram Cristo estava viva (menos Judas) e pelo que se sabe em Atos dos Apóstolos, estavam juntos.

Mas, a grande maioria era analfabeta e não escreveram nada.

Paulo sabia ler e escrever muito bem, mas Paulo não esteve com Jesus Cristo fisicamente falando e enquanto O Cristo esteve na Terra. 

Na verdade, Paulo odiava os Cristãos e os caçava como animais!

Paulo não “bebeu” da Palavra em primeira mão.
matias
Matias, Substituto de Judas

Paulo nem ao menos foi escolhido (ou eleito) pelos outros apóstolos como substituto de Judas Iscariotes; o escolhido para substitui-lo foi Matias, na base da sorte, um jogo tipo jogo de dados atual.  Haviam dois candidatos a preencher a vaga deixada por Judas: Matias e José, (chamado Barsabás que tinha por “sobrenome” O Justo); lançaram a “sorte” com o Urim e o Tumim (o tal jogo, similar a imagem abaixo) crendo que Deus através do jogo demonstraria a melhor escolha.
Urim e o Tumim
Urim e o Tumim

O que está acontecendo é o seguinte: Estão pregando Paulo como se fosse o Evangelho e Paulo não é Cristo!

Estão pregando a palavra de um pregador, amanhã pregarão a palavra de quem pregou a palavra de um pregador (isso já está acontecendo, muitos livros sobre a pregação de "missionários" que na verdade é a pregação de outro pregador: Paulo de Tarso).

E assim caminha o cristianismo atual: A igreja católica partiu para Maria (Pede a mãe que o filho atende, Maria a Intercessora e outras) mãe terrena de Jesus (que na prática não pregou nada, tudo que se diz sobre ela é invenção dos homens após o concílio de Niceia 400 anos após a morte de Jesus) e os Protestantes (e evangélicos pentecostais também) partiram para pregar as pregações de Paulo.

Podemos e devemos reverência tanto a Paulo quanto a Maria, mãe terrena de Jesus, mas não cultua-los.
Jesus e o homem
Jesus é O Caminho. Não Tem Intermediários

Jesus? O Cristo?

Ele esteve aqui na Terra, e deixou uma mensagem diretamente a nós, sem intermediários, sem intercessores. Mas poucos estão pregando o Evangelho ou seja o que Jesus deixou para nós em forma de Testamento e foi escrito por pessoas para que pudéssemos ler e aprender e se possível propagar.



domingo, 16 de dezembro de 2012

Eugenia. O Racismo Científico.

O que é Eugenia?

eugenia
 
 
Durante o Século XIX o mundo conheceu o pior aspecto da ciência.
 
Escritores, filósofos e cientistas desenvolveram, criaram ou apoiaram ideias e teorias para justificar assassinatos em massa durante muito tempo.
 
Mais tarde, no século XX, essas teorias seriam usadas para justificar mais e mais assassinatos de supostos seres humanos de raças inferiores.
 
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Robert Knox
Em 1820, o Médico cirurgião Dr. Robert Knox de Edimburgo (1791-1862) era o mais importante cientista racial da Inglaterra.
Baseado tão somente em estudos de esqueletos, cadáveres e sobretudo de crânios, ele criou, com muita aceitação as bases para um novo tipo de racismo. O racismo científico.
 
Robert Knox caiu em desgraça em meados dos anos 1820 acusado em um escândalo de roubo de cadáveres, fugindo da Grã Bretanha.
 
Ele comprava cadáveres de dois bandidos pé de chinelo que ao ver que poderiam vender defuntos para o Dr. Knox tornaram-se uma dupla de serial killers.
 
Existia uma espécie de pousada para viajantes, pequena e barata, eles trabalhavam como cobradores de aluguel ou das diárias desta pensão. Aproveitavam-se de que os hóspedes eram viajantes desconhecidos os assassinavam para vender seus corpos sem vida para o Dr. Robert Knox; os preços variavam entre 7 e 10 libras algo como entre 500 e 800 dólares hoje em dia, muito dinheiro para a época. Entre 16 e 20 pessoas foram mortas pela dupla e seus corpos foram comprados por Knox.
 
Os assassinos foram descobertos por uma hóspede que retornou por ter esquecido um par de meias francesas em um dos quartos, ela estava acompanhada do marido e ao procurar a meia sob a cama viu um dos cadáveres.
 
Os dois assassinos foram presos; um dos assassinos fez um acordo com a justiça: ele ficaria livre de qualquer acusação caso contasse toda a verdade.
 
Ele denunciou o amigo e o Dr. Robert Knox.
 
O amigo foi enforcado, suas últimas palavras foram:
 
E o doutor?
Nada vai acontecer com ele?
 
O assassino que fez o acordo, mais tarde foi perseguido por uma multidão enraivecida, caiu em um poço de cal, ficou caolho e morreu na miséria, provavelmente de fome. Robert Knox caiu em desgraça, nunca mais exerceu a medicina, trabalhou como jornalista e ficou na obscuridade por muito tempo.
 
capa do livro de Knox
Livro The races of man
Em 1840 O Dr. Knox volta ao cenário do Racismo Científico com a publicação do livro: The races of man: a fragment (As raças humanas: um fragmento ... ou As Raças do homem: Um Fragmento…).
 
Neste livro, dentre muitas afirmações podemos destacar:
 
“…Que a raça decida de tudo nos negócios humanos é simplesmente um fato, o fato mais notável, mais geral que a filosofia jamais anunciou. A raça é tudo: a Literatura, a Ciência, a Arte [...] a civilização dela depende…”
 
“… As raças negras podem ser civilizadas? Eu devo dizer que não…”
 
“…Agora, esteja a Terra superpopulosa ou não, uma coisa é certa, os fortes sempre irão se apoderar das terras e das propriedades dos fracos. Estou convicto de que esta conduta não é, em absoluto, incompatível com a mais elevada moral e mesmo com o sentimento cristão…”
 
“…A raça saxônica jamais as tolerará, jamais se miscigenarão e jamais viverão em paz. É uma guerra de extermínio…”
(As citações acima são de Robert Knox, The Races of Men Philadelphia, PA: Lea & Blanchard, 1850)
 
Olha, escrever sobre a “raça saxônica” é muito difícil e complicado. Eu já assisti uma palestra gravada onde um proeminente historiador dizia:
 
“…Ninguém sabe verdadeiramente quem foram os saxões…”
 
Mas a história formal está repleta de referências a Saxônia.
 
A Saxônia:
 
O termo “saxão” vem do proto-germânico “sahsan”, que significa "faca".
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Monge Beda
 
As referencias mais antigas e de certa forma confiáveis são do século VIII onde o Monge Beda (monge beneditino), conta que no início do século V, três tribos germânicas invadiram e colonizaram o sul e o leste da Grã-Bretanha:
 
Os Angles (Anglos), que provavelmente vieram de Angeln (em alemão moderno).
 
A palavra Inglaterra em inglês England viria do inglês antigo Engla land ou Ængla land.
 
Os saxões, uma tribo da hoje conhecida como a “Baixa-Saxônia” (em alemão moderno: Niedersachsen).
 
E os Jutos possivelmente uma tribo da península da Dinamarca chamada de Jutlândia (em dinamarquês moderno: Jylland).
 
Como podemos ver, é tudo na base do “possivelmente”, “provavelmente” do “talvez”.
 
Há séculos os ingleses tentam encontrar provas de uma origem “nobre”, “heroica” “uma raça superior” ou um “berço nobre” para os seus antepassados. O fato é que a ilha hoje chamada de Inglaterra, foi invadida por todos os lados e por vários povos ao longo dos séculos. O principal povo invasor foram os romanos, que não só invadiram, mas colonizaram e se fixaram lá por mais de 400 anos. No século XXI, é no mínimo ridículo querer falar sobre raça pura na Inglaterra ou em todo o Reino Unido e no século XIX era igualmente ridículo.
 
Samuel George Morton
Samuel George Morton
A hipocrisia do chamado Racismo Científico não estava restrito a Inglaterra.
Nos Estados Unidos um médico chamado Samuel George Morton especialista em crâniologia liderou um grupo que reunia crânios de diversas “raças” para fazer comparações; nesses estudos eles afirmavam que os crânios das raças tinham vários tamanhos e que quanto maior o tamanho, maior o cérebro, quanto maior o cérebro maior a inteligência e a capacidade de evolução, sobrevivência, liderança etc. Só que eles achavam os crânios europeus e americanos sempre maiores que os crânios africanos, tasmanianos, malaios, mongóis e índios americanos.
 
Dando prosseguimento as suas teorias, eles fizeram as mesmas comparações com crânios de outras espécies de animais, e encontraram (é óbvio) vários tamanhos de crânios no reino animal e decidiram que o animal com maior caixa craniana era mais inteligente e mais evoluído que o animal com menor caixa craniana e menor cérebro. Sendo assim, o ser humano com uma caixa craniana menor, tinha um cérebro menor e portanto era menos evoluído, podendo segundo suas conclusões, nem ao menos ser considerados humanos, estando próximo a um animal irracional.
 
O Darwinismo Social:
Charles Darwin
Charles Darwin
 
Charles Darwin o pesquisador e autor do livro A Origem das Espécies mostra que na natureza existe uma certa hierarquia entre as espécies; o animal, seja um inseto ou um mamífero mais especializado, “vence” e supera o animal menos especialista.
Assim, o evolucionismo de Darwin foi usado como desculpa para justificar o expansionismo branco sobre as outras raças.
 
O raciocínio era o seguinte: se na natureza o animal mais forte vence o mais fraco por ser mais especializado, por que negar isso ao ser humano?
 
O branco (seja europeu ou não) se expande porque é mais especializado, mais inteligente e eliminar as raças mais fracas, é apenas uma consequência, e uma consequência muito natural. Os partidários dessas teorias, ficaram conhecidos como Darwinistas Sociais.
 
Thomas Henry Huxley
Thomas Henry Huxley
O biólogo inglês Thomas Henry Huxley (1825-1895) ganhador da medalha de ouro em anatomia e fisiologia da Universidade de Londres, descobridor de uma camada interna dos fios de cabelos (a camada de  Huxley) descobridor de novos espécimes de animais (na Austrália e Nova Guiné), o criador do termo agnosticismo, chamado de O Buldogue de Darwin era defensor do Darwinismo social.
 
No Brasil também houve defensores do Darwinismo Social.
 
As Conferências Populares da Glória:
 
Foram reuniões públicas realizadas no Colégio Estadual Amaro Cavalcanti (a época chamava-se escola da Freguesia da Glória), que na verdade fica localizado no Largo do Machado no Bairro do Catete (tudo muito próximo, para você que não conhece o Rio de Janeiro).
 
Essas reuniões organizadas pelo conselheiro Manoel Francisco Correa (1831-1905), que foi advogado, senador do império, deputado geral em três mandatos, foi presidente da província de PernambucoManoel Francisco Correa (equivalente a governador de estado hoje em dia), sócio fundador da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Formado em Humanidades na Faculdade de Direito de São Paulo, foi agraciado com a grã-cruz da ordem da Conceição de Vila-Viçosa e de Cristo de Portugal, além da ordem da coroa de ferro da Áustria e de Sant´anna da Rússia.
 
Ele criou as Conferências Populares da Glória em 1873 com o objetivo de propagar as ciências, as artes e a literatura na capital do Império Brasileiro. Políticos, médicos, advogados, escritores, jornalistas, parlamentares, além do Imperador Dom Pedro II e a Família Imperial, assistiam às conferências que ocorriam aos domingos pela manhã.
 
As teorias de Charles Darwin foram apresentadas pela primeira vez nas Conferências da Glória pelo médico Augusto Cezar de Miranda Azevedo (1851-1907) em 1875.
 
O tema da palestra foi: Darwinismo: Seu Passado, Seu Presente, Seu Futuro.
 
 
Augusto Cezar de Miranda Azevedo:
Augusto Csar de Miranda Azevedo
Augusto Cezar de Miranda Azevedo
Foi médico, historiador, jornalista e político, primeiro redator da Revista Médica do Rio de Janeiro, Presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo (1897-1898), foi deputado estadual em São Paulo e um republicano fervoroso.
 
Defendeu uma tese acadêmica com o título:
 
Do darwinismo: "É aceitável o aperfeiçoamento completo das espécies até o homem?"
 
Nas Conferências Populares da Glória, o Dr Augusto Cezar Miranda Azevedo, destacou que o Darwinismo “…forneceria o instrumental para se pensar e resolver os problemas da sociedade brasileira…” e ele ao disseminar as ideias de Darwin estaria prestando um "serviço à pátria e ao povo".
 
Agora vem a parte que mais interessa, o Darwinismo Social:
 
O Dr Augusto Cezar tinha uma proposta de aplicação prática das teorias de Darwin que seria na convocação para o Serviço Militar!
 
Ele alegava que os melhores, os mais saudáveis eram levados para o campo de batalha enquanto os deficientes, e fracos ficavam para procriar e isso é claro dentro de sua ideologia gerava brasileiros mais fracos e doentes.
 
O Dr Augusto Cezar Miranda de Azevedo acreditava assim como todos os adeptos do Darwinismo Social que havia uma hierarquia na espécie humana, haveria os sadios, os fortes, os inteligentes e em contrapartida haveriam os fracos, os doentes e os menos inteligentes e capazes.
 
Segundo ele, os inferiores gerariam filhos predestinados a serem inferiores e o os superiores predestinados a terem descendentes superiores. Seria um “determinismo hereditário”.
 
Em 1918 foi fundada A Sociedade Eugênica de São Paulo; assim, o Brasil ficou sendo o primeiro país da América do Sul a ter um movimento eugênico organizado.
 
Renato Ferraz kehl
Renato Ferraz Kehl
Em 1931 foi criado o Comitê Central de Eugenismo, presidido por Renato Ferraz Kehl e Belisário Penna que propôs o fim da imigração de não-brancos, para:
 
"prestigiar e auxiliar as iniciativas científicas ou humanitárias de caráter eugenista que sejam dignas de consideração" (Revista Brasileira de Enfermagem).
 
Herbert Spencer
Herbert Spencer
Herbert Spencer  (1820-1903). Foi um economista e filósofo positivista inglês que defendeu o Darwinismo Social com unhas e dentes, mesmo sem nunca ter usado a expressão Darwinismo Social ele é considerado o pai da sistematização desta crença.
 
Não podemos esquecer que o positivismo foi a escola filosófica que inspirou a proclamação da república no Brasil.
É dele a expressão:
 
"sobrevivência do mais apto".
 
O Darwinismo Social foi usado para justificar ou justificou inúmeras politicas genocidas nas colônias europeias na África, América do Sul, América do Norte e na Índia, a aniquilação por completo de sociedades tidas como inferiores ou a dizimação de raças e culturas quase que por completo:
 
malaios, tasmanianos (na Tasmânia, Austrália), índios norte-americanos, indianos e povos africanos como por exemplo os hererós na Namíbia; e mais tarde já no século XX, os judeus na Europa.
 
Milhões de seres humanos das assim chamadas “raças inferiores” foram mortos, em geral, brutalmente ou de fome e sede.
 
Lorde Lytton o Vice-Rei da índia era adepto do darwinismo Robert Bulwer Lyttonsocial, ficou famoso dentre outras coisas por ter organizado e oferecido um banquete para mais de 60.000 pessoas em 1876, (considerado por muitos como a maior festa do mundo), enquanto no mesmo ano na Índia mais de 10 milhões de pessoas morriam de fome literalmente nos territórios ocupados pelos ingleses, pessoas cometeram canibalismo, venderam suas filhas por um punhado de arroz e muitos, muitos cometeram suicídio enquanto Lytton e seus convidados se empanturravam por mais de uma semana com o que foi considerado o maior banquete da história. (leia o artigo O Maior Banquete da História clique aqui).
 
O sucesso estupendo dos genocídios cometidos pelos europeus em continentes longínquos não tardou a voltar-se para dentro de seu próprio seio. Raça e classe começaram a se confundir; o conceito de que raça e classe eram a mesma coisa, começou a se fundir e não demorou para que o “Darwinismo Social” tornar-se uma ciência discriminatória não apenas de raças classificadas inferiores, mas também de classes inferiores ainda que essas raças tivessem nascido e vivessem no bairro ao lado.
 
Começaram  a enxergar inferioridade do ser humano nas classes operárias de suas próprias cidades e países.
 
Na Inglaterra desde muitos séculos existem referências aos Cockneys.
Seria impossível aqui, explicar corretamente todos os aspectos que envolvem os Cockneys; livros, tratados etimológicos e léxicos já foram escritos sobre o assunto. Vou tentar resumir em poucas palavras o que é um Cockney; entre muitíssimas aspas, com uma comparação tosca sem muitos refinamentos de minha parte; peço antecipadamente mil perdões por qualquer incorreção minha ou se por ventura ferir alguma susceptibilidade:
 
Seria de uma maneira geral, como o nosso caipira interiorano, de fala diferente da população em geral; às vezes falando errado, a maioria trabalhadores em empregos simples, às vezes braçais e  sem necessidade de muito estudo.
 
Bom, os Cockneys na Inglaterra não são emigrantes, são filhos da própria terra. Logo que as politicas genocidas justificadas pelo Darwinismo Social deram certo, os Darwinistas Sociais se voltaram para Londres e os Cockneys. Começaram a estudar seus crânios e mapear onde viviam e é claro chegaram a conclusão que eram mais violentos que os outros ingleses e menos capazes, menos inteligentes.
 
Um  cientista que passou a visitar as cadeias para estudar as cabeças dos criminosos e estabelecer uma relação classe-raça inferior foi Francis Galton (1822-1911) nada mais nada menos que primo de Charles Darwin.
 
Francis Galton:
Francis Galton
Francis Galton
 
Inteligentíssimo, seu Q.I. foi estimado em 200. Foi matemático, escritor de sucesso (produziu mais de 340 artigos e livros em sua vida), explorador (viajou por toda a África fazendo descobertas científicas), antropólogo, meteorologista, inventor (principalmente de instrumentos de medição meteorológica) e estatístico.
 
Era um pesquisador voraz e dentre as suas áreas de interesse estavam algumas muito interessantes para um racismo científico; veja algumas delas:
Ele desenvolveu pesquisas sobre a distribuição geográfica da beleza.
 
Pesquisou e escreveu sobre as impressões digitais.
 
Ele também criou o conceito estatístico (usado até hoje) de correlação; a  regressão em direção à média (ótimo para justificar matematicamente coisas injustificáveis na prática).
Ok, escreveu também sobre: moda, levantamento de peso, a eficácia das orações religiosas, inventou aparelhos diversos como um abridor de cadeados, periscópios e um tipo de impressora precursora do teletipo. Mas o assunto aqui é racismo científico. (para mim, pouco importa se ele foi o maior gênio que a humanidade conheceu, no meu entender ele foi um imbecil).
 
Galton foi o primeiro a usar métodos estatísticos para o estudo das diferenças humanas de inteligência (segundo ele e os Darwinistas Sociais, essas diferenças seriam hereditárias).
Formulou questionários para coletar dados sobre as comunidades humanas para os seus estudos antropométricos com o intuito explícito de corroborar suas teses racistas, mas sempre acompanhado de subterfúgios como genealogias e biografias. Criou a psicometria (a ciência da medição de faculdades mentais) e a psicologia diferencial. (mais tarde a psicometria foi desvirtuada ou usada como sendo (ou se tornando) uma faculdade paranormal, a capacidade de “enxergar” imagens e sentir vibrações a partir de objetos.
 
Como primo de Charles Darwin evidentemente era especialista em seus livros e teorias (Origem das Espécies) e como outros, acreditava que o que se podia aplicar no reino animal, poderia e deveria ser aplicado ao ser humano.
 
Francis Galton acreditava que a “raça” humana poderia ser melhorada caso fossem evitados “cruzamentos indesejáveis”.
 
Propôs o desenvolvimentos de testes de inteligência para selecionar homens e mulheres brilhantes, destinados à reprodução seletiva.
 
Sendo assim, Francis Galton criou em 1883 o termo Eugenia, que significa "bem nascido". Galton definiu da seguinte maneira a Eugenia:
 
“…É o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente…”
 
O que aconteceu é que Francis Galton  estava muito preocupado com o crescimento das chamadas classes inferiores e a estabilização do crescimento da classe média e das classes abastadas da qual ele fazia parte como homem riquíssimo, filho de um próspero banqueiro. Com o crescimento das “classes inferiores” o que estava acontecendo era o contrário da Teoria de Darwin: Os inferiores não só estavam sobrevivendo como estavam se proliferando.
 
A Eugenia, a ciência criada por Francis Galton propunha o incentivo ao aumento da natalidade nas classes média e alta e inibição da procriação das “classes inferiores” e dos criminosos.
 
O fato é que a eugenia foi amplamente aceita pelos cientistas; era moderno, era “científico”.
 
No final do século XIX e mesmo em boa parte do século XX muitos entusiastas da eugenia e eugenistas declarados  tinham orgulho disso:
 
George Bernard Shaw
 
Bernard Shaw: Foi membro da Sociedade Fabiana junto com H. G. Weels, Escreveu Pigmaleão (Pygmalion ou My Fair Lady) onde fica evidente sua análise sobre as classes ou se preferir, raças.
No Documentário The Soviét. Story de Edvins Snore, Bernard Shaw aparece defendendo o nazismo e o extermínio de todos os "parasitas sociais", pessoas não adaptadas e inúteis para a sociedade. Foi acusado (no mesmo documentário) de ter feito um apelo através do Jornal Listener (em 1933) para que os químicos desenvolvessem um gás letal com a finalidade de matar seres humanos "inadequados". foi ganhador do Prêmio Nobel e do Oscar.
 
H G Wells
H.G. Weels
H.G. Weels: foi membro da Sociedade Fabiana junto com George Bernard Shaw e foi aluno de biologia de  Thomas Henry Huxley um dos precursores do Darwinismo Social como comentei acima.
 
Conhecido mundialmente por sua obra literária como os romances: A Máquina do Tempo, O Homem Invisível e A Guerra dos Mundos; todos best sellers e todos sucessos também no cinema.
O livro a Guerra dos mundos foi transposto para o rádio em 1938 por Orson Welles; essa transmissão radiofônica ficou famosa mundialmente por provocar pânico nos ouvintes, que imaginavam estar enfrentando uma invasão real de extraterrestres.
 
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Philipp Lenard
Philipp Lenard: Philipp Eduard Anton von Lenard (alemão nascido na Hungria) Prêmio Nobel de Física de 1905 por suas pesquisas sobre os raios catódicos e a descoberta de muitas de suas propriedades.
 
Após ler alguns artigos de Albert Einstein ficou indignado por Einstein ser um teórico e não um experimentador como ele.
 
Escreveu vários artigos denegrindo Albert Einstein e acabou o desafiando para um debate público.
 
Albert Einstein
Albert Einstein
Einstein aceitou o desafio, e mais que isso, arrasou com Lenard e levou a plateia a acreditar que seu opositor era algo como um dinossauro da ciência.
Isso enfureceu Philipp Lenard que desde este momento passou a hostilizar publicamente Einstein chamando-o de judeuzinho ridículo e coisas mais "fortes" que isso.
Mais tarde Philipp Lenard filiou-se ao Partido Nazista tornando-se um Nazista exemplar além de Eugenista entusiasmado.
 
Infernizou a vida de Albert Einstein a tal ponto que só restou uma saída ao físico alemão: Fugir para os EUA.
 
Frase de Philipp Lenard Prêmio Nobel de Física de 1905:
 
Existem duas ciências a verdadeira ciência: compreensível, comprovável e praticável e a ciência judaica: fantasiosa e absurda.
 
Wiston Churchill
Winston Churchill
Winston Churchill: Foi um defensor da higiene racial; isso fica evidente na matéria da Times Magazine escrita por Paul Gray em 11 de Janeiro 1999 intitulada “Cursed by Eugenics” (Amaldiçoado pela Eugenia). Não pude reproduzir aqui trechos desta matéria em função de problemas de direitos autorais.
 
 
 
Eugen Fischer
Eugen Fischer
 
 
 
 
Em 1908 um “cientista” eugênico chamado Eugen Fischer, (a palavra eugenia nada tem a ver com o nome Eugenio ou Eugen como vimos acima) viajou para a cidade de Rehoboth na Namíbia.
 
Fischer e um punhado de assistentes passaram meses fotografando, medindo e examinando os habitantes de Rehoboth.
 
Todas as pesquisas de Eugen Fischer estão arquivadas em uma repartição pública da Namíbia até hoje: Fotos, medidas de rostos e crânios e ainda páginas e mais páginas de estudos racistas querendo provar a inferioridade do povo negro africano e que se miscigenado ao do homem branco com o povo negro africano o gene africano negro irá prevalecer e o resultado será, por mais branco que seja, um ser humano inferior. Mais tarde Eugen Fischer trabalharia para os Nazistas como veremos mais adiante.
 
Após esses estudos, a reputação de Eugen Fischer foi as alturas e o país que mais gostou, adotou e financiou muitas de suas ideias e teorias foi os Estados Unidos.
 
Nos Estados Unidos no início do século XX a Eugenia cresceu sem controle, sobretudo com investimentos maciços nestes estudos por parte da elite dominante.
 
Dinheiro arrecadado por eugenistas norte-americanos foi usado por um dos eugenistas americanos mais infames que existiu naquele pais: Charles Davenport.
 
Charles Davenport
Charles Benedict Davenport
Charles Benedict Davenport (1866-1944), foi Doutor em biologia com pós-graduação em zoologia, professor de zoologia na Universidade de Harvard, especialista em taxonomia, entusiasta da biometria (não a biometria eletrônica de hoje, usada para identificação de pessoas para que essas tenham acessos a sistemas informatizados e sim a medida de seres humanos, ossos, crânios, dimensões faciais, para fins de classificação dos seres humanos em superiores e inferiores), foi diretor do Cold Spring Harbor Laboratory.
 
Charles Davenport, foi responsável diretamente pela esterilização de mais 60.000 seres humanos nos EUA (cerca de 50% no Estado da Califórnia), mais outros tantos milhares indiretamente, todos considerados por ele como “impróprios” a se reproduzir. Foi o americano de maior influência no Holocausto na Europa. Foi o criador e fundador do Escritório de Registros Eugênicos (1910). Escreveu o livro A Hereditariedade em Relação a Eugenia que foi leitura obrigatória em várias faculdades por anos a fio. Com esse currículo foi eleito para ocupar uma cadeira na Academia Nacional de Ciências Norte-Americana. Em 1925, junto com Eugen Fisher (citado acima), foi fundador do IFEO, Federação Internacional das Organizações de Eugenia.
 
Escritrio de Registros Eugnicos
Escritório de Registros Eugênicos (1910) - EUA
 
Em 1912 foi fundado o Comitê Internacional de Eugenia, presidido pelos EUA, e o centro eugênico em Cold Spring Harbor era base de treinamento de eugenistas do mundo todo.
Davenport manteve ligações públicas com várias instituições Nazistas, antes e durante a Segunda Guerra Mundial, escreveu em jornais alemães de cunho racista, apoiou direta ou indiretamente as ideias de limpeza étnica perpetrado pelos alemães nazistas. Para o público americano no entanto,  dizia ser contra o nazismo.
 
Com o apoio das elites norte-americana a Eugenia tomou proporções quase religiosas; inclusive tendo o seu próprio “Credo”.
 
O Credo Eugênico:
  • Eu acredito no esforço para elevar a raça humana para um plano mais elevado da organização social, no trabalho cooperativo e no esforço eficaz para tanto.
  • Eu acredito que eu sou o administrador do germoplasma que eu carrego e que este foi passado a mim através de milhares de gerações antes de mim, e que eu não posso trair essa confiança, se eu assim agir, como para prejudica-lo, com suas excelentes possibilidades, ou, por motivos de conveniência pessoal, limitarei indevidamente a minha prole.
  • Eu acredito que, tendo feito a minha escolha em um casamento com cuidado, nós, o casal, devemos procurar ter de 4 a 6 crianças, a fim de que o nosso germoplasma cuidadosamente selecionado será reproduzido em grau adequado e que essa ação preferencial não deve ser inundado por outros menos cuidadosamente selecionados.
  • Eu acredito em uma seleção de imigrantes que não tendam a adulterar o nosso germoplasma nacional com traços socialmente inaptos.
  • Eu acredito na repressão de meus instintos quando a segui-los seria ferir a próxima geração.
No Escritório de Registros Eugênicos, dirigido por Charles Benedict Davenport, começaram a identificar as raças e as classes americanas consideradas geneticamente inaptas (com a desculpa de defender a “saúde e a pureza da raça branca”); após identificadas, essas classes e raças eram monitoradas e suas vidas e fertilidade passavam a ser controladas pelo Estado com o aval de renomados cientistas.
 
Edwin Black
Edwin Black
No livro Guerra Contra os Fracos de autoria de Edwin Black, o escritor, jornalista e colunista comenta esse assunto:
 
“…Quando uma pessoa era identificada como de certa classe, isso significava qual escola ela frequentaria, em que cemitério ela poderia ser enterrada e onde poderia morar. Era uma questão de vida e morte. As leis sobre o casamento estavam consolidadas em dezenas de Estados Norte-Americanos, essas leis estabeleciam que essas pessoas não poderiam casar fora de seu grupo: Negros não podiam casar com brancos, índios não podiam casar com negros (por exemplo). No Estado da Virginia se a pessoa casasse com a pessoa errada, ou seja casamento inter-racial, as autoridades os “descasavam”; o casamento era anulado…”.
 
Em 27 Estados Norte-Americanos as leis eugênicas foram aprovadas. O estado de Indiana foi o primeiro a legalizar a esterilização coercitiva. E essas ideias eram amplamente propagadas em folhetos, revistas, livros e em um meio de propaganda que era novidade à época: O Cinema.
 
A esterilização em massa obrigatória foi um fato nos EUA.
 
Segue Edwin Black em seu livro:
 
“…Eles fizeram isso, checando os ancestrais, visando as linhagens sanguíneas para a extinção. Isso é Eugenia. O esforço para criar uma raça mestra branca, loura e de olhos azuis; eliminando as outras linhagens de sangue; até ficarem apenas eles e as pessoas parecidas com eles. E o importante aqui é que essas pessoas pensavam estar salvando a humanidade. Essas pessoas pensavam ser liberais, reformadoras…”
 
A eugenia foi um movimento mundial. Na Suécia por exemplo um programa oficial do governo esterilizou a força 60.000 seres humanos (pacientes mentais e membros das minorias étnicas).
 
Na Alemanha é que a eugenia encontrou terreno fértil para ganhar proporções épicas.
 
Michael Burleigh
Dr Michael Burleigh
O Dr Michael Burleigh autor do livro O Terceiro Reich – Uma nova História, conta em um documentário da BBC:
 
“… Em primeiro lugar, tudo ligado aos Estados Unidos parecia moderno, progressista, científico e democrático; lógico, então devia ser bom. Os Estados Unidos eram o futuro, a força para o futuro. Em segundo lugar muitos eugenistas europeus incluindo os alemães, gostaram do tom adotado pelos eugenistas americanos que era muito radical e “quase sem bobagens”, os americanos não usavam eufemismos, diziam exatamente o que queriam dizer…” .
 
Grandes e ricas fundações americanas financiaram a eugeniaJohn D. Rockefellera alemã. O Instituto Kaiser Wilhelm de Antropologia, Hereditariedade Humana e Eugenia de Berlim nos anos 1930 recebia doações da Fundação Rockefeller dos Estados Unidos. John D. Rockefeller era um grande entusiasta e financiador do eugenismo, dentro e fora dos EUA.
Heinrich Himmler
Heinrich Himmler
O cientista mais destacado no Instituto foi Eugen Fischer que se tornou célebre por seus estudos na Namíbia como vimos anteriormente. Fisher foi autorizado pelos nazistas a esterilizar as pessoas “misturadas” racialmente na Alemanha; ao menos 400 dessas pessoas eram crianças; tudo com a supervisão da SS de Heinrich Himmler. Além disso, antes de 1939 eram esterilizados, doentes mentais ou deficientes físicos considerados inaptos. Mais tarde abandonaram o método de esterilização e partiram para algo mais radical: A Eutanásia Adulta; um eufemismo para assassinato em massa de “indesejáveis”. Foram os primeiros a morrer em câmaras de gás durante o período nazista. Não se tem números confiáveis destes assassinatos em massa, porém cerca de 70.000 pessoas é um número bem aceito por todos os pesquisadores.
 
Quando a SS partiu para o seu grande projeto que era aniquilar a população judia da Europa, sobretudo a população judia da Polônia, não tiveram qualquer problema de logística; eles já tinham prática desde a Namíbia, passando pela esterilização em massa de indesejáveis e doentes mentais. Tudo registrado, fotografado, mapeado e arquivado em seus institutos científicos da morte e como vimos, alguns com patrocínio norte-americano.
 
Os alemães gostavam de se referir a eugenia como “Higiene da Raça”; este conceito sobreviveu (e sobrevive até hoje) na Europa até muito recentemente com guerras civis e desmantelamentos de Estados inteiros em nome da limpeza étnica. (vide as guerras na antiga Iugoslávia, Tchecoslováquia, Bósnia-Herzegovina etc. Alguns de seu líderes ainda estão para ser julgados em tribunais internacionais de direitos humanos.
 
Durante a Conferência de Wannsee onde os nazistas alemães discutiram a “Solução Final da Questão Judaica” cerca de metade dos conferencistas sentados a mesa tinham doutorado em eugenia ou “pureza da raça”. Para os eugenistas, nazistas e adeptos da “higiene da raça” o assunto era científico e profissional.
 
O que eu, como autor deste post não quero deixar passar, é que existe uma linha direta desde Francis Galton que cunhou o termo eugenia até o holocausto; sem esquecer de seus precursores como Robert Knox e Thomas Henry Huxley. Os alemães foram herdeiros do Darwinismo Social e do Racismo Científico. O Holocausto não foi uma aberração histórica, teve um passado, muitas vezes justificado pela chamada: ciência.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Conheça a História do Povo da Tasmânia

Um Povo levado a extinção…

taz
Taz
 
Tudo que você conhece sobre a Tasmânia são os desenhos de Looney Tunes e o desenho animado do Taz?

A Tasmânia:

Hoje,  a Tasmânia é uma ilha e um estado australiano com uma área total de 65.022 km². Fica a 240 km da costa sudeste da Austrália “continental”. Na última era glacial, muito provavelmente a  Tasmânia esteve ligada a “ilha” principal da Austrália (entre 10.000 e 18.000 atrás).

O primeiro europeu a avistar a Tasmânia foi
AbelTasman
Abel Tasman

o explorador holandês Abel Tasman (daí o nome Tasmânia) em 24 de novembro de 1642. Abel chamou a ilha de Anthoonij van Diemenslandt em homenagem ao Governador-Geral das Índias Orientais Holandesas.

A ilha ficou conhecida como Terra de Van Diemen (Van Diemens Land) pelos britânicos. O explorador francês Marc-
Marc-Joseph Marion du Fresne
Fresne
James cook
James Cook
Joseph Marion du Fresne também avistou a ilha em 1772 (pouco antes de morrer) e o famoso Capitão James Cook em 1777. Diversos outros navegadores europeus avistaram ou aportaram na ilha.
 
Uma pequena pausa para uma explicação:

Até hoje não se chegou  a um consenso se a Austrália é um continente ou uma ilha. Existe um certo “acordo” em considerar que tudo que é maior que a Austrália é um continente e tudo que é menor que a Austrália é uma ilha; mesmo tendo a maioria dos tratados como sendo a Austrália um continente, o próprio Governo Australiano (através do Departamento de Negócios Estrangeiros e Comércio) considera oficialmente a Austrália como sendo a maior ilha do mundo e o menor continente do planeta.

Continuando com a Tasmânia…

Tasmania
A Ilha da Tasmânia
A primeira colônia da Tasmânia foi iniciada pelos britânicos em Risdon Cove na margem oriental do estuário do Derwent em 1803 por um pequeno grupo enviado de Sydney sob o comando do tenente John Bowen.
John Bowen
John Bowen
Em 1803, a Inglaterra começou a colonizar a Tasmânia e encontraram cerca de 5.000 aborígenes Tasmanianos chamados Palawa e que viviam completamente isolados do mundo a mais de 10.000 anos. Ridiculamente os invasores britânicos analisaram e julgaram esses habitantes pela ótica de sua “civilização” “cristã” europeia (eu coloco a palavra cristã entre aspas, pois não houve nada de cristão em suas atitudes).
O Professor Henry Reynolds da Universidade da Tasmânia deu a seguinte declaração para um documentário da BBC:
Henry Reynolds
Henry Reynolds
“… Logo houve expressões de nojo e choque pelo modo como os Tasmanianos viviam. Para os europeus pareciam que os Tasmanianos não tinham cultura, não tinham religião, não tinham um Deus. Assim eles os viam como gente que tinham ficado para trás na história e também os ligaram a uma ideia muito popular no século XVIII: “A Grande Cadeia do Ser”; em que várias raças do gênero humano foram arranjados em ordem hierárquica e na qual os Tasmanianos eram singularmente selvagens e primitivos, portanto podiam ser tratados quase como animais…”
 
Também em 1803, os britânicos construíram sua primeira colônia em Risdon Cove que está localizado na margem leste do Rio Derwent, a cerca de 7 km ao norte de Hobart a atual capital da Tasmânia; este pequeno grupo foi enviado de Sydney na “Austrália Continental”. Esta colônia foi mais tarde abandonada.
 
Em 1804 uma segunda colônia foi estabelecida pelo capitão David Collins a 5 km ao sul de Risdon Cove em Sullivan's Cove na margem oeste do Rio Derwent. Esta última colônia ficou conhecida como Hobart Town ou Hobarton, mais tarde encurtado para Hobart  e mais tarde ainda se tornou a capital da Tasmânia.

A questão é que as duas colônias foram construídas onde por milênios eram área de caça dos Tasmanianos. A caça era necessária para os invasores ingleses assim como para os aborígenes e se fazia necessário enxotar, maltratar, e se  necessário matar os Palawa.

Em um lugar longe de tudo e de todos não fica difícil imaginar o que ocorreu: Os ingleses foram enxotando os Tasmanianos  cada vez mais para longe; até que em meados de 1820 os habitantes nativos começaram a reagir e assim como eram mortos, passaram a matar os invasores de suas terras.

Bain Attwood
Bain Attwood
O Professor Bain Attwood da Universidade Monash na Austrália deu o seguinte depoimento para o documentário que no Brasil tem o título de: Racismo; uma história. (Impactos Fatais) da BBC de Londres:

“… A partir de 1820 grandes quantidades de terras são tomadas de seus donos e ocorreu uma luta enorme entre o povo aborígene e os brancos. É claro que é muito difícil documentar muito da violência dos colonizadores porque eles sabiam que era contra a lei matar o povo nativo. A eles foi dito que os aborígenes eram súditos britânicos, mas com certeza eles revelam em seus diários e em suas anotações o desejo de eliminar esse povo…”

Esses acontecimentos ficaram conhecidos à época como “Guerra Negra”. Não teve testemunhas, a Tasmânia era um lugar muito ermo, mesmo assim acabou chamando a atenção das autoridades inglesas pois os invasores chamados de “colonizadores” com a desculpa de ter a missão de desenvolver a agricultura e outras atividades, matavam todos os Tasmanianos que viam pela frente; grupos familiares inteiros foram mortos sem dó nem piedade. Por mais que os nativos revidassem desesperadamente para defender suas famílias, suas terras e suas vidas, eles não eram guerreiros, eram 5.000 indivíduos que embora separados em comunidades familiares não guerreavam entre si; não tinham a menor condição de lutar contra europeus banhados de sangue até o último fio de cabelo. Além do mais os primeiros colonos eram, em sua grande maioria, presidiários e guardas prisionais com formação militar; os aborígenes da Tasmânia eram como pintinhos lutando contra raposas espertalhonas.

O Professor Henry Reynolds continuou seu depoimento para a BBC:

“… Em tais circunstâncias, era muito fácil nos dois lados, sem dúvida, ver o outro lado como sendo totalmente sub-humano. Não tenho dúvida de que os aborígenes achavam que os europeus não tinham moralidade alguma ou comedimento algum; igualmente os europeus passaram a ver aquela gente como animais e selvagens. Em uma sociedade racialmente tão dividida o conflito deriva facilmente para um extremo sentimento de ódio…”

Durante a década de 1820, milhares de aborígenes morreram, enquanto chegavam mais e mais colonos. Ao final da década, havia o risco real de aniquilação de toda a população nativa.

George Arthur
Governador George Arthur
Em 1824, chegou a Tasmânia a “esperança” dos  Tasmanianos: o Governador George Arthur (Major-General Sir George Arthur). Ele definiu duas estratégias para acabar com o conflito entre colonos e aborígenes. Por um lado, premiou a captura de aborígenes, tanto adultos como crianças, e por outro lado tentou estabelecer contatos com os aborígenes a fim de convence-los a adaptarem-se à vida em acampamentos concebidos para eles.
George Arthur não era inexperiente; teve uma carreira “brilhante”, antes e depois da Tasmânia; ele foi vice-governador de Honduras (entre 1814 e 1822), mais tarde serviu na Província de Upper (Canadá de 1838 a 1841). Ele também serviu como governador de Bombaim (Índia de 1842 a 1846); serviu nas guerras Napoleônicas em várias campanhas e foi ferido gravemente em combate.
Arthur declarou lei marcial, na ilha.
Após os ataques de colonos aos aborígenes, Arthur organizou a “Black Line” um  fiasco, que se destinava a conduzir os aborígines a locais onde poderiam ser controlados.

Continuando com as declarações do Professor Henry Reynolds:

“… O governador da Tasmânia é cristão protestante,*  conhece Wilberforce** e está ciente que o seu futuro e sua reputação dependem acima de tudo de como ele irá lidar com esse problema, no fim dos anos 1820 ele já tinha sido avisado pelo governo britânico que o rápido declínio do número de aborígenes, sugeria que eles poderiam acabar sendo exterminados e que se isso acontecesse seria uma mancha indelével na reputação do império britânico. Além disso por implicação seria desastroso para a sua carreira…”

* Wilberforce é uma localidade na Austrália; o professor  Henry Reynolds quer dizer com isso que George Arthur não desconhecia totalmente a região da Austrália.

** A tradução para o português das declarações de Henry Reynolds no documentário da BBC diz textualmente que o Governador George Arthur era evangélico. Não me foi possível ter acesso a gravação original em inglês, no entanto creio que a tradução tenha sido equivocada. Não consta que Arthur tenha sido pentecostalista; é quase certo que era cristão protestante. No Brasil essa confusão é muito comum. O Brasil é o único país do mundo em que se confunde Protestantes históricos como por exemplo: Presbiterianos, Calvinistas, Batistas e tantas outras denominações (igrejas se assim preferir) com “evangélicos”  no sentido de pentecostalistas (Tele-Evangelistas, IURD etc.. Que são seitas auto-intituladas cristãs evangélicas).

Então, George Arthur partiu para tentar “salvar” os Palawa; e para isso fixou cartazes pictóricos nas árvores das terras aborígenes (veja a gravura) com verdadeiras fantasias utópicas que diziam mais ou menos o seguinte:
 
cartaz tasmaniano
Cartazes Fixados em Árvores para Atrair os Aborígenes
Os cartazes mostravam imagens falando da justiça britânica, prometiam igualdade perante a lei, mostravam que se um homem branco matasse um aborígene, seria enforcado, mas se um aborígene matasse um “colonizador” branco esse aborígene seria enforcado. Os cartazes também propagavam mentirosamente que os ingleses queriam a integração entre os nativos e os britânicos.
Nada funcionou, nada deu certo; e na prática continuou a matança dos dois lados, sempre com os Tasmanianos levando a pior.

Após anos sendo mortos pelos homens brancos os Palawa aprenderam a se esconder nas matas da Tasmânia.

Dos 5.000 aborígenes tasmanianos que estava na ilha a mais de 10.000 anos, sobraram 300.

Determinado a tomar definitivamente as terras dos aborígenes, o Governador George Arthur com a desculpa de salvar os sobreviventes do povo Palawa, contratou os serviços de um missionário protestante; George Augustus Robinson.

George Augustus Robinson:

George Robinson
George Augustus Robinson
Era um construtor, filho de construtor e resolveu emigrar para a Tasmânia. Ocorre que ele também era um cristão fervoroso e dada a carência de missionários dispostos a viver naquelas paragens, acabou sendo investido deste título; ele não tinha nenhuma experiência como missionário, mas acabou conquistando a simpatia de um grupo de aborígenes e os converteu ao cristianismo.

Com essas precárias credenciais Robinson foi contratado pelo Governador George Arthur para ir as matas contatar os aborígenes sobreviventes.

Sobre este assunto, o professor Henry Reynolds comenta para a BBC:

“…Robinson recebeu a mensagem de que o governo queria chegar a algum tipo de acordo, uma negociação, um tratado de paz. Robinson e seus ajudantes, convenceram os nativos que eles deveriam ir temporariamente para uma (outra) ilha onde seriam cuidados e alimentados e que depois voltariam para a sua ilha natal…”

E assim foi feito; Robinson convenceu os 300 aborígenes sobreviventes a sair da Ilha da Tasmânia onde seus antepassados estiveram por mais de 10.000 anos e foram viver em um assentamento chamado de Wybalenna que significa Casa de Homem Negro na Ilha Flinders.

A Ilha Flinders:

É uma ilha no Estreito de Bass . Fica a 20 quilômetros de Cabo Portland , na ponta nordeste da Tasmânia e é a maior ilha do Grupo Furneaux. A área total da ilha é de 1.333 km ², bem diferente dos 65.022 km² da Ilha da Tasmânia.

Robinson largou seu trabalho de construtor e foi viver com os aborígenes no assentamento da Ilha Flinders. Ganhou o título oficial do governo inglês de “Protetor Chefe dos Aborígenes”.

Foram construídos no assentamento Wybalenna: Casas, terras para cultivar e uma capela. Robinson chamava o assentamento de “Ponto Civilização”. Um artista foi contratado para fazer retratos dos últimos 300 tasmanianos.
 
djini 2
Djini tinha sido capturada por Robinson logo após a quase aniquilação de seu povo pelos colonizadores.

 
ingadj 2
Iunradji tinha sido chefe, até a sua comunidade ser eliminada por um vírus trazido pelos europeus.

 
manaularquena
O líder local Manalarquina foi atraído para a Ilha Flinders com a promessa de que os presos que tinham atacado seu povo fossem levados a justiça. A maioria dos “colonizadores” eram presidiários.

 
Triganini
Truganini viu seu marido ser assassinado diante dela.
Todos os trezentos sobreviventes haviam visto sua cultura quase extinta e o pouco que sobrou foi sendo lentamente sendo substituído por “valores cristãos” enfiados goela abaixo por George Augustus Robinson.
 
Sobre isso o Professor Reynolds diz:
 
“… Ele acredita que para ser um cristão bem sucedido era preciso se assentar, morar em uma vila. Ele quer mandar as crianças para a escola, quer ensinar a elas a arar, semear e tornar essas crianças agricultoras…”
 
Desta maneira, estando ali, longe de sua ilha natal, forçados a ser o que não eram, os aborígenes começaram a morrer um após o outro; muitos por doenças contraídas dos europeus; o médico dizia que eles estavam com uma doença que ele chamava de “espíritos deprimidos”.
 
Não nasceram mais crianças aborígenes no assentamento da Ilha Flinders, eles foram um a um se desvanecendo como um espírito coletivo que se evapora, desaparece.
 
Alguns se entregaram a chamada civilização cristã de Robinson, vestindo-se com roupas europeias e frequentando os cultos na capela local; outros até serviram como empregados domésticos.
 
Truganini e os ltimos 4 aborigines tasmanianos
Últimos quatro aborígenes tasmanianos, em 1860. Truganini, a última a sobreviver, está sentada à direita.
 
Em meados de 1840, dos 300 aborígenes levados por Robinson para a Ilha Flinders, 260 morreram; em geral, ainda jovens. Os outros 40 foram lentamente desparecendo desta vida. A última a morrer foi Truganini, que morreu em 1876. Foi a última Tasmaniana de sangue puro.
É quase um consenso de que George Augustus Robinson não era um homem de mau caráter. Ele era frequentemente visto chorando junto aos tasmanianos, muitas vezes sem saber o que fazer. Era uma pessoa completamente despreparada para executar o que lhe foi proposto ainda que essa proposta fosse mentirosa por parte do governador e de outras autoridades. Ao final, só restou a ele criar um mapa onde era marcado os sepulcros dos Palawa. Certa vez teria dito:

- Bem, ao menos morreram como cristãos, em paz e não em meio a floresta assassinados.

Não foi o cristianismo que aniquilou o Povo Tasmaniano, o cristianismo foi usado como desculpa por homens de coração de pedra para aniquilar o Povo Tasmaniano.

Hoje a Tasmânia é um bom lugar para fazer turismo, é um bom lugar para viver; graças as vidas de milhares que foram obrigados a ceder suas terras, sua maneira de viver e suas vidas.
 
Talvez você se lembre disso na próxima vez que assistir o desenho do Taz.

treganini
Truganini, em 1876. A última Tasmaniana.