quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Anatomia de um incêndio - Sexta parte

Esta é a sexta parte da história Anatomia de um Incêndio.
Como eu estava contando na quinta parte da Anatomia de um Incêndio; eu fui me encontrar com a minha esposa.
Sabe quando você está indo para algum lugar, mas tem uma vontade enorme de nunca chegar?
Era assim que eu me sentia, verdadeiramente eu queria que aquele trajeto de menos de 2.000 mil metros nunca acabasse. Mas acabou.
Eu enfim teria que encarar a minha mulher, a mulher da minha vida, a minha esposa e falar a verdade.
Quando estacionei ela estava posicionada a frente da única vaga disponível a frente do barzinho "cospe grosso" que tomávamos conta. Antes de eu descer do carro notei (não sei se era verdade) lágrimas em seus olhos; ela estava com as duas mãos juntas em uma posição parecida com aquela que pretende rezar.
Eu desci do carro, fui em direção a ela e a abracei, a beijei na boca, sem sensualidade, mas com muita amizade, cumpliscidade, amor. Parei de beijar, e falei no seu ouvido:

- Temos que ser fortes! Muito mais fortes que já tivemos que ser.

- Foi grave?

- Foi. Perdemos todo o último andar, toda a instalação elétrica, toda a instalação hidráulica, o telhado e a água do Corpo de Bombeiros fez muito estrago.

Continuei:

- Avise a sua mãe que vamos ter que dormir lá hoje.

- Já avisei, minha irmã está vindo aqui para nos ajudar.

Falei para ela não subir no último andar e não entrar pela porta da frente pois ainda havia risco de desabamento de escombros. Então, alguns que estavam no bar se aproximaram (aqueles que estavam desde quando eu recebi a notícia do incêndio); e começou; como foi? Perdeu tudo? Foi incêndio mesmo? Onde começou?
Respondi da melhor maneira possível e voltei a trabalhar enquanto esperávamos a minha cunhada, para levar minha mulher a casa e pegar objetos pessoais.
Ela chegou, na verdade meu sogro dirigia o carro e minha cunhada estava no banco do carona, insisti com ambos para que não subissem ao último andar e muito menos que deixassem minha mulher subir ao local específico do incêndio, havia perigo de se queimar, (brasas etc...), desabamento de paredes e fora o aspecto psicológico, afinal estava muito recente.

Claro que a primeira coisa que fizeram foi subir diretamente ao local do incêndio...
Logo recebi uma ligação da minha mulher dizendo que ainda haviam focos de incêndio e que o meu sogro teve que apagar um deles com um balde de água.
Minha mulher me falou por telefone:
- Foi um balão, dá para ver a bucha ainda pegando fogo...
Óbvio que não, do contrário os vizinhos e os bombeiros teriam dito algo. Mas ela continuou por muito tempo falando no tal balão.

Eu continuei atendendo aos clientes...

Um deficiente, muito conhecido da área estava lá, sempre tentando conseguir uma cerveja grátis em sua cadeira de rodas, era sempre a mesma história, ele pagava uma e depois fazia uma cara de "gato de botas" do desenho Shrek; convidava alguém para sentar com ele e... pronto! Caiu na armadilha ele bebia "todas" e só pagava a primeira.

A proprietária da qual eu arrendava o horário também estava lá, bêbada como nunca. Tentava ser solidária comigo e com a minha esposa, mas o álcool falava mais alto e ela não conseguia coordenar bem as idéias.

E uns outros que não eram clientes habituais.

A proprietária do prédio desceu para beber, pediu uma mesa, eu atendi e diante dos olhares tão diferentes ela perguntou:

- Aconteceu alguma coisa?

Eu respondi:

- Minha casa pegou fogo!

- O que?

Ela começou a rir, pensando que era brincadeira e levou um bom tempo até se convencer que não era piada.

Passou um tempo e lá vem o carro da minha cunhada com meu sogro e minha mulher dentro. Pude perceber que ela havia trazido roupas e travesseiros.

Fui em direção ao carro e ela me falou algo do tipo: daqui a pouco estarei de volta.

Eu continuei lá, atendendo aos clientes e rezando para minha esposa voltar.

Ela voltou, voltou diferente, como se nada tivesse acontecido, no início não entendi, mas depois percebi que era a maneira dela de parecer forte diante do acontecido.

Me ajudou a servir algumas cervejas.
Depois eu coloquei duas cadeiras a beira da calçada de maneira que poderíamos sentar juntos, porém sem perder a visão total do bar.

Demos as mãos.

Nisso o deficiente pediu uma Antarctica, eu disse a ele que havia acabado e só tínhamos Itaipava no que ele reclamou:

- Mas eu comecei a beber Antarctica e não quero mudar de marca agora.

A proprietária do comércio que eu arrendava tentou intervir dizendo:

- Puxa! Mas também não é assim, quem bebe uma bebe todas...

O deficiente continuou:

- Eu sou exigente, se comecei a beber uma marca não vou trocar...

Eu me levantei e falei:

- Meu irmão eu não estou nem aí para a sua exigência; minha casa pegou fogo e eu não quero saber se você gosta de beber Antarctica ou Itaipava! (falei com certa grosseria)

Depois olhei para o lado e chorei.
Voltei para minha mulher e disse:

No dia tal eu devolver a sua casa. (coisa que eu nuca deveria ter dito, mal tínhamos dinheiro para comprar comida)
Aos poucos as pessoas foram indo embora.
Por volta das 10 ou 11 da noite eu falei:

- Sabe do que mais? Vamos fechar!

Continua...

2 comentários:

  1. OLÁ RESCATOR.

    QUE DRAMA MEU CARO.
    TERMINA NA SEXTA PARTE OU TEM MAIS.
    AGUARDO.
    ABS DO BETO.

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    Respostas
    1. É meu amigo, não foi e não está sendo fácil a minha vida.
      Eu não dei prosseguimento ao texto.
      Foi mais um desabafo e um registro.
      Pouquíssimas pessoas leram estes post's. Então eu desisti de continuar a escrever.
      Hoje estou separado, (virei solteiro), quase virei mendigo, passei fome, frio etc...
      Mas as coisas estão melhorando!
      Já tenho até um lap top novo rs rs rs
      Com a graça de Deus eu vou me recuperando aos poucos.
      Minha religiosidade foi meu apoio, meu suporte, meu consolo.
      Um abraço Beto e obrigado por ter lido

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